quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Infância*

       Será que Roger Garaudy se visualiza como responsável pela infelicidade de seus pais, pelo menos na parte relacionada à situação financeira? ele assim nos relata "Apesar de ser 'pupilo da nação', e bolsista, isto destruirá toda a vida de meus pais. De meu nascimento até minha formatura, eles não vão a um espetáculo, uma festa, não tem um prazer: duas vidas sacrificadas por uma, a minha, na qual eles depositaram sua alegria." (p. 18) Nitidamente ele nos expõe de maneira dramática até as privações as quais seus pais se submetiam para que a criança pudesse então estudar. Antes desse parágrafo ele assim descreve um dos esforços de sua mãe para lhe prouver os estudos. "Recordo-me das pernas azuladas de minha mãe, vendendo, de casa em casa, grãos de café, para que eu perdesse 'continuar meus estudos'." (p.18) Bem, sabe-se dos desafios ardilosos que o amor de um pai pelo filho pode fazê-lo enfrentar. A situação financeira da família Garaudy obviamente não era nada boa. Seu pai depois de servir o exército na guerra, em um período de desenfreada inflação, retorna ao lar de muletas, impossibilidade de trabalhar, enquanto sua mãe "começa sua batalha cotidiana para evitar que passemos fome" (p. 18). É o lar de uma família destroçada pelo sistema econômico, pela guerra, e que acima de tudo, mantém seus votos de amor, de fraternidade, lutando para que ao menos esse pequeno ser, que brota do seu seio, tenha a chance que talvez nunca tiveram, possa desabrochar nessa vida, e não murchar antes do tempo.
       Mesmo com toda a proteção familiar, auxílio do tio-avô Edouard, "Tenho apenas dez anos, mas , como ele so´teve filhas, assim como todos os seus irmãos, exceto Clodius, o pai de meu pai, disse-me, como se sagrasse um rei: 'Você é o último Garaudy." (p. 14) a criança começa então sua busca pelas respostas que seus pais não podiam lhe dar e ainda por se defender da opressão que a pobreza lhe profere. "Minha vida tem nos livros sua pista de vôo" (p. 16). Ele encontrou na leitura sua tábua de salvação. Lendo, emergindo nas histórias, obviamente preferia os livros de ficção. "Não canso de reler Viagens e Aventuras do Capitão Halteras, de Júlio Verne" (p. 17) e os livros de cavalaria "sou, eu também, apaixonado por Ginevra, Isolda ou Branca Flor, mas meu modelo é Galaad. Este mito é o motor da minha vida" (p. 17). Assim Roger Garaudy consegue suportar sua miséria, consegue viver seu presente, de modo ausente.
       A história dos anos iniciais de Roger Garaudy em muitos pontos se coaduna com a minha. Entendo até mesmo o motivo de tanta franqueza ao falar dos seus. Mas ainda assim, ele está falando com amor, apesar de todo sentimento confuso que este período conturbado - de muitos outros de sua vida - nos revela. Eu também fui pobre, não miserável! Eu também enfrentei problemas familiares - alguns também relacionado ao aspecto econômico - na infância e tinha a precoce percepção assim como Garaudy, de que algo não estava indo bem, de que certa magia havia se perdido. Meu refúgio também fora os livros. Suas referências pouco a pouco vão deixando de ser seus pais. "A cultura? Ela me cria uma falsa genealogia, uma consciência falsa: a certeza de ter nascido há mil anos, com o primeiro homem, e de ter por raízes apenas a sua história." (p.18). Eu também estava me transferindo e me conectando à outras épocas. Eu estava nos anos de Raul Pompéia, de Machado de Assis, de Graciliano Ramos. Estava na Rua do Ouvidor no século XIX com as personagens machadianas. Frequentava os salões de Ressurreição**. Roger Garaudy encarava essa necessidade: "É tão belo, o mundo da cultura. Na falta de um futuro, ele me dá uma passado: a história dos trabalhos e dos sonhos, das culturas e das religiões, e, deformando tudo isto, a dos impérios e de suas guerras." (p. 18). Garaudy adolescente já, eedicado à leitura encontra nas filosofias o mesmo caminho que percorri; e conclui destes anos que vão da infância a adolescência: "Busco uma palavra de vida. E, acima de todos, aquela que, em meio à tempestade dos apetites conflitantes dos indivíduos e dos povos, me sirva de sextante e me guie pelas estrelas." (p. 19). Assim, de forma quase poética, Roger Garaudy nos trazendo a velha lógica já apontada por mim nesse blog em outras postagens: todo ser que se empenhe nos estudos das filosofias vai acabar tornando-se niilista, porque não poderá se agarrar a nada, pela simples racionalidade dos conceitos, pois nenhuma verdade pode ser absoluta, em si mesma. Acaba-se sempre partindo do subjetivo, temos que escolher mesmo sem ter certeza, apelar para a fé para então fugir do niilismo, construir então nosso próprio sistema, fugir do poder opressivo do vazio e do absurdo.

* Citações extraídas de:
GARAUDY, Roger. Minha Jornada Solitária pelo Século. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.

** Primeiro romance do autor brasileiro Machado de Assis, publicado em 1872.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Algumas Considerações Acerca da Verdade


 # é uma impossibilidade epistemológica (não recordo o autor);
# é a subjetividade (kiekegaard);
# Deus é a verdade plena alcançada pela fé (ainda Kierkegaard);
# A verdade então não estará na multidão, mas no indivíduo;
...
# O cristianismo é um dos caminhos para se chegar a verdade, pois coloca o indivíduo em contato com o subjetivo (Kierkegaard);
# Alcançar a verdade é um salto no obscuro, no absurdo, i.é. um ato de coragem;
# Descobrindo a verdade se responde a questão "Por que vim ao mundo?" (Kierkegaard)
# Encontrar a verdade é urgência, dado a finitude e breviedade da vida (Kierkegaard)
 
Por fim:
# Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
João 14:6

Bem caros acólitos, rumo as suas verdades...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Minha Jornada Solitária Pelo Século

O século de que Garaudy nos fala é o século XX, o mesmo século de Sartre, Foucault, Merleau-Ponty e tantos outros franceses que agitaram o cenário intelectual mundial até o fim da segunda metade do século.

Mon Tour Du Siecle In Solitaire

É a parte que cabe exclusivamente a Roger Garaudy nessa profusão de idéias que deu origem ao renascimento da filosofia em terras agora pós revolucionárias. Em termos filosóficos, assim poderíamos então compreender, esse "solitaire" tão a princípio segregador, tão separatista, que aparece no título de sua obra, como a parte que lhe cabe, o seu quinhão nesse século, sua, por assim dizer, contribuição. Não que tenha buscado a solidão, apesar de muitas vezes se deparar com ela em seu estado físico e também no mundo das idéias. Isso pela condição de sua situação, uma ora prisioneiro nos campos de concentração nazistas da Segunda Guerra Mundial, em outra circunstância rompendo com o Partido Comunista Francês o qual foi um dos maiores ideólogos. Agarrou-se então ao cristianismo, desiludido que estava com o materialismo, convertendo-se e mais tarde tornando-se muçulmano. Esse é Roger Garaudy, ele mesmo empregando o movimento dialético em sua própria vida, rompendo aqui e ali, buscando se encontrar. Doutor em letras, professor de filosofia, buscou em vários campos do saber a verdade para daí concluir que tudo é então uma questão de fé, ou você acredita ou não.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Morre Eric Hobsbawn

Fiquei bastante comovido esta manhã ao saber da morte do maior historiador contemporâneo: Eric Hobsbawm morreu aos 95 anos de idade de pneumonia, ontem, segunda-feira, no Hospital Royal Free de Londres. Dia 1º de outubro foi o dia de sua morte. Já havia escrito neste blog sobre seu livro "Tempos Interessantes - Uma Vida no Século XX". Quem confirma sua morte aos jornais é sua filha Julia, aquela que podemos conhecer através do livro já citado.
 
Nosso historiador era judeu de nascença (nasceu em 1917 no Egito), adotando depois a cidadania britânica, aderiu ao partido comunista aos 14 anos, era então marxista, simpatizante do jazz, escrevia que tinha vivido no maior dos séculos (extraordinário e terrível), o século XX.
A imagem que mais me recordo dele, é da cara de desdém com que aparecia na capa de sua autobiografia. Parecia dizer que nós aqui no século XXI, nada vivemos.
 
Bem, o fato é que com sua morte sua produção intelectual acabou. Talvez ainda saia uma publicação de um livro que nosso historiador deixou inacabado. Mas bem, o que faremos dessa herança, o que essa obra influenciará nas próximas decisões, no nosso futuro e presente, não poderemos agora saber. O mundo vem mudando em uma velocidade terrível e continua sendo o mesmo mundo de séculos atrás. O que poderemos dizer o próprio Hobsbawm já disse "As únicas corridas de cavalo previsíveis foram as que acabaram".

terça-feira, 24 de julho de 2012

Liberdade Vs. Engajamento


       Hoje tive a idéia de um livro qeu provasse ser o Engajamento em Sartre contrário a sua noção de lIberdade. Falo da liberdade não no sentido que ela aparece em sua obra O Ser e o Nada, mas mais no sentido em que Sartre desenvolve no Diário de uma Guerra Estranha, talvez em sua autobiografia e nos seus romances. A mesma liberdade que fez com que nunca mais aceitasse cargos públicos depois da sua renúncia de ser professor. A liberdade que fez com que recusasse por exemplo o Nobel em literatura. Escrevi então o tema no Word: "Contradições em Sartre: Liberdade Vs. Engajamento", depois escrevi o seguinte parágrafo: "Sartre foi, entre os filósofos franceses, o menos engajado. Roger Garaudy, por exemplo, era deputado; André Malraux era Pimeiro Mnistro da Cultura, na França, nomeado pelo general Charles de Gaulle; Raymond Aron em 1934 torna-se secretário do Centro de Documentação Social da ENS e passou a exercer após a Sgunda Gerra Mudial grande influência nos debates políticos sobre a liberdade cultural na França. Sartre então é membro do P.C. francês, intervém política e filosoficamente na ocupação da Argélia, também é chefe-fundador da revista Les Temps Modernes". Ao cabo desse parágrafo sucitou já em meu espírito certas dúvidas a respeito da veracidade do tema inicialmente proposto. Temi que a tese não se confirmasse. Sartre não era assim tão pouco engajado. Ele não poderia ser o próprio exemplo da contradição. Bem, mas ainda valeria estudar o tema proposto e ver se realmente, enquanto Sartre foi como ele mesmo definiu se engajando, o quanto foi perdendo de sua Liberdade. Outro motivo de receio que o prarágrafo acima descrito suscitou foi o do grande trabalho de pesquisa que eu teria de desenvolver para chegar a comprovar o tema ou refutá-lo de uma vez. Talvez se eu partisse por outro caminho, ignorando se Sartre estava ou não perdendo sua liberdade ao se engajar, mas apelando para uma abordagem mais técnica e filosófica, o trabalho de pesquisa seria menor. 

       Depois do parágrafo escrevi a seguinte linha: "A idéia de liberdade é paradoxal a idéia de engajamento. Quanto mais engajado o indivíduo menos livre ele se torna". Agora o que falta é mesmo muita pesquisa. Um livro desta espécie não se desenvolve em algumas semanas, normalmente demroa meses e até anos para ser concluído, mas poderá ser uma obra capital. Está lançada a questão, não sei nem mesmo por onde começar. Talvez a priori eu deveria investigar as duas teorias, a da liberdade e do engajamento, para só depois cruzá-las e ver se elas mesmo não se auto-eliminam. Enviei a questão para um filósofo especialista em Sartre, André Yasbek a princípio ele não vê contradições. Talvez a pesquisa nem devesse se iniciar... Vou aguardar o Yazbek retornar novamente para ver até que ponto faz sentido discutir a respetio do assunto. Até lá, qualquer comentário será de bom grado.

domingo, 22 de julho de 2012

Criacionismo X Evolucionismo (A Solução Final)

Dia 1º de março de 2011 eu postei o seguinte texto:
o qual eu dava indícios de que o Criacionismo não carece nem de longe de legitimidade em relação ao Evolucionismo. Esta semana tenho recebido alguns comentários sobre este post, que me induziram a repensar a questão. Concordo que me precipitei quando falei de Hitler, mas não é mentira que ele foi influenciado pelo Evolucionismo de Darwin. Também reconheço a pobreza do texto, e a superficialidade da análise. Esboçarei duas regras que elucidam melhor a questão. Pois bem, eis onde de fato consegui chegar:

É impossível chegar a nossas origens sem ser pela fé. A arqueologia não é perfeita e muito menos completa, e nunca será. O que temos são hipóteses, evidências, nada de absoluto. Partindo desse princípio, ou acreditamos ou não. Se a questão é acreditar ou não, é uma questão de fé. Se for fé o que precisamos ter nas ciências, de nada difere em se ter fé em Deus. Fé é fé.

2ª Somente um Deus poderia acrescentar vida na matéria e principalmente, consciência.
Observado estes dois postulados, que para mim são lógicos, não há outro caminho possível a não ser acreditar que foi um Deus quem nos colocou nesse mundo, seres dotados de consciência e não a teoria de que evoluímos do macaco.
Resta ainda dizer que a ciência é uma convenção. Sabe-se que não se pode em tese avançar do 0 para o 1, pois existem aí infinitos números, a exemplo 0.1, 0.11, 0.111... infinitamente. Da mesma forma Ainda a respeito, Einstein dizia mais ou menos assim: posso afirmar que esse objeto que acabo de soltar, fez um movimento de queda retilíneo, e se chocou ao solo, mas não posso afirmar que quando eu soltá-lo novamente irá fazer o mesmo movimento. Óbvio, convenciona-se que sempre que eu soltar um objeto ele vai de encontro ao solo, mas necessariamente não será sempre assim. Acredita-se nisso. Então, a ciência é um ato de fé. Mas na situação do Evolucionismo x Criacionismo, está na minha compreensão que o Criacionismo parece muito mais legítimo que o Evolucionismo, pois acrescenta o elemento Deus, único possível a dar sentido a toda a estrutura universal. Sem esse elemento, caímos direto no niilismo e no absurdo. Não é o caso de sermos hipócritas, mas de aceitarmos que não há possíveis sem Deus.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Balanço Parcial

Começa a segunda metade do ano de 2012. Desejo que esta segunda metade seja muito mais profícua que a primeira. Evidentemente, isso dependerá apenas de mim, seguindo a lógica sartreana. E nada está de fato garantido. 

Revestida com uma túnica de hipocrisia, essa primeira metade do ano foi covarde. Terminei minhas postagens dessa primeira metade, relatando o horror dos massacres sírios, os quais ainda não cessaram de acontecer. Até o momento também não está bem certo se são de responsabilidade do governo Sírio ou das milícias. 

Após o texto sobre os massacres sírios, nada mais escrevi que merecesse constar no blog! Senti-me desencorajado por um motivo até agora desconhecido. Sinto-me doentio também. Pelo menos o frio aguça o intelecto, no meu caso. Destarte, retornei à leitura do livro Diário de uma Guerra Estranha, do francês Jean-Paul Sartre. Livrinho inspirador! 

Semana passada empreendi uma viagem de carro até Montevidéu, capital do Uruguay. A paisagem quase sempre bucólica me trouxe um certo sentimento de tranquilidade. Fui pelo Chui, ou Chuy para os Uruguaios. Essa pequena cidade no fim do nosso país, é brasileira apenas no papel, como mesmo dizem seus habitantes, pois sua cultura é praticamente uruguaia. A origem dessa uruguaização do Chuí, deve ser bem antiga. O interessante é que não consta nos livros de geografia, ao menos, nos livros que estudei na época do Ginásio no Colégio Walter Holthausen com a professora Cleusa. 

Bem, conservados as impressões que uma viagem como esta pode fornecer ao nosso espírito - como a beleza da escutura do artista Artigas na Plaza da Independência em Montevidéu -, esse empreendimento foi muito mais uma provação do que meramente um lazer. Vencido o desafio, o que resta? A vontade talvez de criar novos desafios herdada talvez até da sensação de que o desafio não era tão grande assim; ou ainda, o desejo de se aquietar em seu canto, pois não há nada de tão grandioso para se observar e aprender que eu não possa retirar das minhas leituras, da própria navegação na internet. Tudo é ao mesmo tempo tão grande e tão pequeno. Tão grande, a viagem é longa, 2600 Km aproximadamente. No entanto, a paisagem se repete, as pessoas são parecidas, os lugares também. Em essência, não se aproveita quase nada.


Com esse texto fica consagrada a entrada na segunda metade de 2012.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Massacre na Síria e "Quem é o Homem?"

Massacre na Síria. De acordom com as fontes obtidas nos jornais, provenientes da ONU, 108 civis mortos, dentre eles pelo menos 32 a 49 crianças. Fotos e vídeos estão disponíveis na internet. Crianças aliadas ombro a ombro vítimas de ataques por armas brancas, paus, bombas e armas. Os ataques tiveram início sexta-feira, dia vinte e cinco de maio.. Enquanto muitas famílias no Brasil estavam em casa assistindo televisão, preparando seus passeios, ou ainda já viajando a passeio, outras famílias estavam sendo dizimadas em uma região do Sudoeste da Ásia, na cidadade de Houla. A milícia de ativistas opositores ao governo de Bashar Assad, condenam o exército sírio pelas mortes. Mas, obviamente, o exército não usaria de instrumento como pau e faca para se projetarem contra as milícias. Também isso não quer dizer que o exército não possa ter culpa, ou mesmo que não possam ter matado algumas destas vítimas. Parece um erro nos preocuparmos com esse tipo de violência tão distante de nós brasileiros, enquanto aqui no nosso país, crianças ainda morrem de fome, ou mesmo vítimas da violência urbana. Atrocidades que permeiam o mundo de ponta a ponta. Nessas horas, quem é o Homem? O que queremos dizer com "Evolução"?
Ainda, outros países se posicionam contra o exército sírio, alegando que mantém equipamento militar pesado, como tanques e artilharia em bairros residenciais. Precisamos de tanques e artilharia pesada para conter as pessoas?! Isso não seria uma antagonismo, e até mesmo uma afronta a qualquer Direito Internacional Humano.



Ainda vale ressaltar: os números oscilam. Dependendo de quem faz a leitura, por exemplo, o Observatória Sírio de Direito Humanos (OSDH), relata que são 90 mortos, sendo 25 crianças. As condenações também são variáveis: alguns países condenam o governo Sírio, outros os ativistas, e bem poucos entendem ser uma reação mista. Indiferente de quem for a culpa, direitos humanos internacionais seguem sendo violados, crianças seguem sendo mortas, e ainda utilizam destes fatos horríveis para fazerem política, para ganharem mais poder. Bem, não é desta forma que vão conseguir frear estes tsunamis de mortes...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Verdade é uma Impossibilidade Epistemológica

A verdade é uma impossibilidade epistemológica (Júnior José Machado).
Aquilo que apreendemos do mundo é o reflexo de nossa consciência. Consciência é consciência de alguma coisa conforme Husserl. Quando avistamos uma árvore, atribuímos a ela a característica de sua existência. É na nossa consciência que formulamos a noção de que ela existe. Ignoramos completamente o que esta árvore pode estar sendo fora do nosso olhar, se alguém já a derrubou, se morreu, se o vento a quebrou. Esta árvore está para nós (Sartre).
O Sentido que atribuímos as coisas e a vida é por mera falta de sentido, pelo niilismo, pela angústia (Kierkegaard) gerada por tudo que é incognoscível, pela necessidade de escolhermos, de andarmos, de tomarmos uma decisão a qual não poderemos saber previamente toda sua repercussão.
Nesse interim criam-se paradigmas. Assim, acabamos por ser platônicos.
Kant cria o modelo do Justo, do Ético; Sartre, o da Liberdade; Marx, o do homem de classes; Hegel, do homem histórico, etc. Todos os filósofos começam céticos, tornan-se niilista e acabam platônicos. Nem mesmo Nietzsche, o divisor de águas, foi diferente.
A Razão é um ato de Fé.
A Linguagem é Platônica, é Metafísica.
A Fenomenologia da Ontologia é Metafísica.
Nós somos Metafísicos, Platônicos (Júnior José Machado).
Enfim, é necessário se apegar em algo, para garantir sua existência, sua vida.
Destarte, criamos o mundo, as leis, os modelos, as ciências, toda uma máquina que entra em funcionamento em consonância com essa Laranja Mecânica que é o Planeta Terra.
É essa a máquina que segrega, que escolhe, que privilegia, que explora, porque não se pode fugir dela, e quem sabe manipulá-la a seu favor, estará manipulando os outros também.
Qual a saída? Não há. Ou se aceita um paradigma, ou se corre o risco de morrer louco, solitário, tendendo-se ao suicídio.


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Mundo Real x Mundo Virtual

Existem um dualismo de mundos. Existe o mundo físico, onde nos locomovemos, onde conhecemos as pessoas, onde nos olhamos, caminhamos, dormimos, comemos, enfim. Este mundo que bem pode ser chamado de natural; também existe um outro mundo, que a priori parece ser o mundo virtual. Não estou falando aqui do mundo da internet, mas do Mercado Econômico. Em conversa com um tio bancário há uma semana pude perceber que este mundo, o dos investimentos, das ações, dos juros, das aplicações, insurge-se sobre o nosso mundo natural de forma tão concreta e objetiva que mais parece ser aquele o mundo real e nosso mundo natural, o mundo físico apenas um reflexo dele. Eu não conseguira a princípio perceber até que ponto as alterações no mundo das finanças, dos cifrões, influenciavam nossas vidas mundanas. Agora sei que toda a cultura, todo o aprendizado, toda nossa capacidade pode estar não determinada, mas pelo menos condicionada por este mundo. Realmente, o mundo gira em torno do dinheiro que gira no mundo. É fato! Não há o que contestar...
Mas será mesmo que somos obrigados a viver nesse mundo tão maquiavélico, será mesmo que não nos é dado sair desta prisão dos negócios financeiros? Até mesmo um tibetano estaria dependente destas movimentações financeiras? Para se viver tão separado deste mundo seria necessário mesmo uma absoluta ruptura. Prover da terra os meios de sua subsistência, não atribuir valor econômico a esta terra, ter sua moradia construída a partir do que se extraiu do seu terreno, não atribuir valor econômico a esta moradia, não permitir que seja devorada pelo mercado, que haja interesse econômico. Não estar ligado há nenhuma rede como internet, pois para tal já teria que estar pagando pelo acesso à internet e nesse ponto já dependente das variações do preço do mercado para ter mais poder ou menos poder de acessar esta rede. Ignorar as leis criadas pelo homem, viver sobre suas leis. Produzir suas próprias vestimentas, sua própria energia, sua própria rede sanitária. Será mesmo possível viver totalmente desligado das relações financeiras? O mundo está constituido de tal forma que cada vez mais estamos nos submetendo a estas relações, cada vez mais estamos agindo para que o dinheiro que gira no mundo mantenha-se em rotatividade, mantenha-se ativo, vivo, nos oprimindo.
Qual é então o mundo real? Se nossos atos, nossas relações, nossas decisões são condicionadas pelas variações no mercado financeiro, então somos quase que como escravos deste mundo e ainda, quem consegue entender e viver este mundo, tem bem mais possibilidades de dominar no outro mundo que é o natural. Duas realidades! Quem estará pronto para enfrentá-las? Nós, meros mortais, vivemos muito tempo no mundo natural, tentanto forçosamente ignorar o mundo real, sendo quase sempre surpreendidos de forma tão violenta pelas manifestações do mundo real, sobre nossas vidas mundanas. Quais escolas por exemplo possuem uma disciplina no Ensino Médio de Econômia? Se o mundo real age sobre o mundo natural, porque não entendemos primeiro o mundo real, para depois percebemos o mundo natural já dominado pelo primeiro. Por que vivemos sob o véu de Maia? Não existe, é certo, um interesse de que entendamos esse mundo real, destinados a poucos, soberanos, que ostentam suas riquezes exuberantes. Quando falamos em "nossa vida", essa vida que vivemos é meramente virtual para estes que vivem no mundo financeiro, como mundo real. Pensamos estar vivendo a vida em sua plenitude, em sua forma única de apresentação. Mas o mundo é de uma engenharia brutal, e por isso vivemos atônitos frente as grandes mudanças históricas. É preciso conhecermos melhor o inimigo para nos insurgimos contra ele. Um voto à Educação Econômica nas escolas de Ensino Médio.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Nietzsche, Kierkegaard e o Sentido da Vida

No fim, Kierkegaard e Nietzsche foram os grandes destruidores da filosofia, no bom sentido. Kierkegaard com a noção de subjetivismo; Nietzsche demonstrando a insuficiência da Razão. A partir disso, nada mais se produziu concreticamente. Então, o ser humano está nesse mundo tendo como único ponto de partida original ele mesmo. Mas é tão difícil acessar a si mesmo, quando não se conhece o que está se acessando. E até que ponto é possível executar o "conhece-te a ti mesmo" de Sócrates? Em verdade, para acessarmos este "eu" se faz necessário que adotemos algum modelo, padrão específico de acesso, sendo que nesta atitude já estamos desvirtuando o verdadeiro acesso ao "eu", pois só vamos atingir aquilo que o modelo adotado nos permite atingir. Nesse caso estamos escolhendo, nesse caso ainda estamos pegando o subjetivismo de Kierkegaard. A Fé é uma via que não se acomoda na Razão, de jeito maneira, e que mantém uma relação com o Ser Humano que recai no mitológico, que vai até onde Nietzsche já salientava, no "Só sei que nada sei" de Sócrates, no sentido de nostalgia  da ignorância. A Fé tem sua fonte de acesso também no subjetivismo. Nada mais podemos saber de profundo deste mundo, todo o resto são sofismos. Então esse mundo que queremos conhecer, é através de nós que o conhecemos, e se somos o filtro, nos escolhemos como queremos que ele nos apresente. O Ser Humano neste caso é a medida de todas as coisas, como já apontava um pré-socrático Protágoras. Bem, ainda podemos ressaltar algumas idéias de Platão e Kant, no sentido de que fora deste mundo subjetivo e da experiência existem certas verdades, como a noção de círculo perfeito. Isso serve no entendimento de nosso sistema cognoscente, isto é, como o homem passa a perceber o mundo que o cerca, e é só isso.
Conclusão: niilismo.

O que fazer com tudo isso?
A resposta parece ser: ou se adota, aceita-se ser regido por algum sistema, se engaja em alguma coisa, se envolve em um tema, se escolhe viver de acordo com determinados dogmas, determinados estilos, paradigmas, ou se esquece tudo isso e se aceita que está tudo perdido e que a vida é como Sartre desconfiava "uma paixão inútil".

Qual o risco das duas decisões?
Tanto uma como a outra pode ser um erro descabido. Não há formas de encontrar qual a resposta correta, a única forma é escolher, e escolher no escuro. Esse é o fator gerador de Angústia apontado por Kierkegaard e mais tarde também desenvolvido por Sartre. Olhando por este ângulo, o suicídio até parece ser justificável. Até mesmo o Humanismo pode ser justificável, pois se nada podemos fazer para saber se estamos acertando ou errando em nossas vidas, o mais certo parece ser tornar a vida do Ser Humano nesta terra o mais prazerosa possível, o mais tolerável ao menos, e que ela se propale.

Ou talvez buscar dentro de nós aquilo que nos faz bem, e batalhar para que essas coisas venham à tona, que estejamos atuando onde gostaríamos, vivendo a vida que achamos que valha a pena ser vivida, tendo as relações que gostaríamos de ter. Isso talvez esteja desarranjado pela nossa cultura da imposição, pois desde o nascimento já somos de certo modo obrigados a entendermos e aprendermos coisas, e a vivermos sob leis, das quais passaríamos kilometros de distância se dependessem só de nós.

terça-feira, 1 de maio de 2012

A Caverna de Platão Dos Dias Atuais

Descontextualizar alguém! Fazer com que um indivíduo de, por exemplo, trinta e oito anos entenda que a sua realidade vivida desde o seu nascimento neste mundo não é a única possível nem mesmo talvez a melhor. Provocar a reflexão e a prática da mudança para um outro modo de vida! Tarefas sórdidas e doloridas na maioria dos casos, mas não impossível. O mundo atual ao qual acabamos cedendo e vivendo sobre seus desígnios também é o mesmo mundo que provoca-nos a vontade de mudança, de manifestação em contrário, de alterar o curso das coisas. Se executo o meu trabalho, sem ao menos conhecer os reais motivos que me conduzem a ir todo dia para o mesmo emprego, executar quase sempre as mesmas atividades, sem ainda ganhar o suficiente para atender minhas expectativas, estou alienado. Se penso diferente, busco um sentido para o que faço, emito uma reflexão sincera, duvido da realidade que se apresenta aos meus olhos, estou louco! Louco ou alienado, temos que escolher. Assim, parece meramente impossível qualquer alteração significativa no modo como conduzimos nossas vidas e como nos relacionamos no âmbito das sociedades civis. Essa sociedade confortavelmente pragmática, escraviza-nos sem que ao menos procuremos quebrar os grilhões, sair de dentro da caverna e enxergar o sol lá fora. E quando ousamos a desafiar a luz que a princípio ofusca nossos olhos, e passamos a enxergar o mundo fora da caverna, ao retornarmos para contar as possibildiades tão distintas do mundo lá fora, os que na caverna se acomoram, desafiam nossa descoberta, sobre o argumento unânime de que estamos loucos. Bom melhor ser um louco lúcido, que um alienado tapado. Talvez isso explique porque pensadores tão iminentes como o filósofo alemão Friedrich Nietzsche tenha optado pela solidão. Alienou-se também, é fato! Talvez o melhor seja aprender a enxergar o mundo lá fora, aproveitar suas possibilidades, estar ainda à meia encosta, mas não abandonar o rebanho, e sim, tentar exaustivamente trazer assim mais algumas ovelhas para a visão mais abrangente, menos cômodoa, mas também transformadora. O mundo necessita desta transformação, necessita ainda dos filósofos, pois há muito o que se fazer em prol das sociedades, há muito que se construir em moral, em sentido, em humanidade...


Falta dizer: se formos pensar como hoje é tão difícil a criação de algo fantástico como a escultura de mármore puro Pietà, do grande Michelângelo Buonarroti, é bom começarmos a nos "antenar", porque talvez não estamos evoluindo enquanto seres humanos, mas involuindo....

sábado, 28 de abril de 2012

Virtude é República

No livro O Espírito das Leis, Capítulo III - Do princípio da democracia, o filósofo e político Charles de Montesquieu (1689 - 1755), escreveu que "(...) num Estado popular se precisa de um motor a mais, que é a VIRTUDE." E prossegue "(...) quando num governo popular as leis tiverem cessado de ser executadas, como isto só pode vir da corrupção da república, o Estado já estará perdido." Ainda sustentando seu argumento, rebusca nos gregos tal noção "Os políticos gregos, que viviam no governo popular, não reconheciam outra força que pudesse sustentá-los além da virtude. Os de hoje só nos falam de manufaturas, de comércio, de finanças, de riquezas e até de luxo." E continua, "Quando cessa esta virtude, a ambição entra nos corações que estão prontos para recebê-la, e a avareza entra em todos. Os desejos mudam de objeto; o que se amava não se ama mais; era-se livre com as leis, quer-se ser livre contra elas; cada cidadão é como um escravo fugido da casa de seu senhor; o que era máxima é chamado rigor; o que era regra chamam-no incômodo; o que era cuidado chamam-no temor. (...) Antes, o bem dos particulares formava o tesouro público; mas agora o tesouro público torna-se patrimônio de particulares."
Bem, os políticos brasileiros não leram Montesquieu. Como, passado mais de duzentos anos destas admoestações que aparecem nO Espírito das Leis, perseguimos o caminho justamente equivocado? Parece que queremos fazer tudo o que é nocivo à República. No Estado atual das coisas, eu não estranharia que fosse mesmo essa a inclinação de alguns políticos, principalmente da esquerda, na tentativa de ruir com esse tipo de governo, e implantar a despotismo. É bom mantermos os olhos bem abertos, pois não é possível que desconheçam que aquilo que estão fazendo constitui um grande perigo para à República. Fica a dica: uma leiturinha de Montesquieu nesse momento que o Brasil vai enfrentando, aguardando a decisão do STF em julgar o que foi erguido na CPI do Mensalão, é de bom tom...

domingo, 15 de abril de 2012


Reparem este artigo publicado no Jornal de Santa Catarina

14/04/2012 | N° 12545

ARTIGO

Da decisão do STF

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o aborto de fetos com anencefalia é um avanço no Direito Penal. O Código Penal de 1940, preparado no antigo modelo de Estado, resíduo do medievo, ainda reproduz o desejo de punir, torturar e prender. A mesma decisão não legaliza o aborto, apenas descriminaliza uma prática.

A ideia de prisão ao criminoso tem sua origem no Castelo de Santo Ângelo, em Roma, por volta do Século 11. Isolar o criminoso – herege – da sociedade dos “perfeitos” foi prática comum no sistema inquisitorial católico.

Atualmente, o sistema penal brasileiro é o acusatório e não o inquisitorial. Assim, o ônus da prova pertence ao Estado, que tem que provar o crime, mas antes diz o que é crime e o que não deve ser.

Até 1973, adultério era também crime. Um tipo penal desta espécie configura o modelo de sociedade e família machista importado pelos colonizadores que aqui chegaram e que continuam chegando, devastando culturas milenares.

É errôneo e arrogante dizer que “o STF autorizou o aborto de fetos com anencefalia”. Essa afirmação é pura opinião do senso comum, com o mais puro desconhecimento jurídico, perante um parecer do Estado/Juiz.

Os cristãos têm, enquanto Carta Magna, o próprio Evangelho e não a lei estatal, apesar de que a própria Constituição Federal contempla muitos dos princípios bíblicos. Exemplo: a dignidade da pessoa humana. A vida deve ser protegida na origem, no seu desenvolvimento e até em seu último segundo, independente do espaço.

Por outro lado, fica difícil acolher a prática do levantamento de bandeiras contrárias a uma posição do STF quando o assunto é a vida no ventre. Mas quando o assunto é a vida no seu desenvolvimento, faltam “gritos”... ao contrário, preferem preservar suas estruturas colonialistas, protegidas pelas leis orgânicas de assistência social.

Viva a vida!
CÉLIO RIBEIRO|Padre e professor universitário
 
Sobre o artigo do Padre Célio Ribeiro, "Da  decisão do STF " publicado no jornal, pergunto-o: qual Estado não reproduz em seu código penal o direito de punir e prender? Também, em nosso Código Penal onde está expresso o desejo de torturar, como menciona o autor do artigo? Também diz que os colonizadores vieram devastar culturas milenares, se estivessemos vivendo à égide da cultura local, ainda estaríamos na mata usando folhas como tapa-sexo. A colonização teve aspectos ruins, mas trouxe o progresso, a evolução também. E ainda mais, o princípio da "dignidade humana" é bem mais que um preceito bíblico, é um preceito universal, está no preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948), e está mais para um princípio kantiano do que meramente bíblico. E por fim, aquele "Viva a vida!" depois do que vai ali escrito no artigo, foi um deboche, uma irônia, ou o quê?
Só alguns apontamentos, para não falar da posição do autor, padre da igreja católica apostólica romana, neste caso, ele anda meio fora de situação.
Não duvido do conhecimento do Padre em questão, até porque o respeito, conheço-o pessoalmente. Mas sua opinião no artigo é um tanto quanto assustadora. Daqui há pouco vão achar normal matar crianças depois do nascimento também, caso os pais não tiverem gostado do recém-nascido... cuidado, o Nazismo Reloaded na área
Sem mais...

terça-feira, 10 de abril de 2012

"Novos ouvidos para música nova"

Parece mesmo que o mundo está maluco! Quanta coisa doida acontecendo...
Bem, é certo que também não adianta ficarmos só nos lamentando das desgraças que todo dia perpassam nossas mentes, afetando até mesmo nosso modo de ser, nosso comportamento, nossa existência, provenientes das fontes mais comuns: televisão, rádio, internet, jornais impressos, etc. Existem momentos em que a única solução possível parece ser fazer como Henry Thoreau, ou até mesmo talvez nosso filósofo alemão Heidegger já mais para o fim de sua vida, e ir morar em uma cabana, longe da poluição dos aparelhos que nos bombardeiam diariamente com notícias de todo gênero. Ir morar longe até mesmo das pessoas, longe do Caos. Mas de que adianta se isolar, buscar um alívio para si mesmo, quando nossa natureza já está mais do que provada é viver em comunidade? Quando a sociologia já provou que a família é uma das instituições mais antigas do homem, presente em quase todas as civilizações, de que adianta nos isolarmos e ignorarmos o mundo a nossa volta, por não suportarmos estar nele? Bem, existe uma outra forma de isolamento, que se configura também pela habitação em uma cabana, mas na cabana de nossa mente. Existem pessoas que vivem tão para dentro de si, que conseguem mesmo utilizar desse artifício para suportar sua própria existência dentro do mundo. Tudo isso são sintomas de nosso século.
O bacana mesmo é buscarmos entender a realidade, compreender a época em que vivemos, situar-se para daí modificar a realidade que nos macera, criar novos paradigmas que tornem a vida mais possível, mais aceitável, mais digna e prazerosa de ser vivida. Não sei como fazer isso sem uma dose de filosofia, por isso acho absurdo professores de filosofia que não se interessam por ministrar suas aulas com qualidade, usando como justificativa que seus os alunos são desinteressados com a filosofia. Façam com que compreendam essas verdades, suas aulas ficarão certamente melhores. Busquem essa utilidade, essa razão de ser da filosofia. Também acho um absurdo quererem diminuírem a carga horária das aulas de filosofia dos cursos do ensino médio e superior, quando o que necessariamente falta para nossa sociedade é um embasamento filosófico para dar curso a suas vidas. O aprendizado técnico vem depois. Parafraseando Olavo de Carvalho: o importante não é o que você vai querer ser quando crescer, mas que tipo de sujeito você vai querer ser quando crescer...



quinta-feira, 5 de abril de 2012

Evolução do Direito

É interessante notar como tudo no Direito parece assim ter uma certa lógica, não digo que seja justo, mas que tem uma certa razoabilidade. Obviamente, a sentença de um Juiz pode parecer à primeira vista um tanto quanto exagerada, ou ainda tênue demais diante do caso em questão. Mas, observando bem os critérios e os requisitos que o levou a tomar tal decisão, acabamos por manter um acordo não muito longe do que o próprio juiz convencionou para o caso. Para quem está de fora é muito fácil dar opiniões extravagantes e normalmente infundadas. É que mesmo as decisões magistrais não são assim a esmo, seguem uma formalidade lógica. Também, diante dos códigos, é possível a observância da interrelação de seus dispositivos, os quais muitas vezes fomentam o aparecimento dos princípios que vem posteriormente sombrear futuras decisões e mesmo orientar na elaboração de futuras leis.
O Direito não foi algo criado a partir de uma decisão de um determinado grupo de pessoas, mas sim uma necessidade social, que já passou por vários processos até chegar na idéia que temos atualmente, ainda não isenta de falhas, certamente, mas a cada dia se esmerando na busca de uma Justiça mais justa, se me permitem a redundância. Com efeito, herdamos traços fortes do Direito Romano, clonamos em alguns aspectos constituições de outros países na elaboração de nossa Carta Magna, tolhemos aqui e ali, para construir isso que hoje damos o nome de Direito Brasileiro, e que é simultâneamente motivo de orgulho e desprezo, por nós mesmo brasileiros e por estrangeiros. É sabido nossa evolução em aspectos, por exemplo, civis, não no processo é claro, mas na elaboração das leis que regem as lides no âmbito civil e porque não trabalhista. No entanto, é conhecido também nosso atraso, por exemplo, na legislação penal, código este que está para ser novamente modificado. Bem, o importante é estarmos caminhando, e parece que nesses dois últimos anos os tribunais superiores tem se empenhado mais em levar a cabo decisões que já estavam anos pendentes no aguardo de uma finalização. Mas todo esse caminhar em busca de aprimoramento não deve necessariamente querer satisfazer a ânsia por progresso, abandonando-se assim valores que se esquecidos, poderão enfraquecer nossos sistemas de leis, abrindo verdadeiras brechas para grupos financeiros usurpar dos vacilos na busca de rendimentos próprios. Todo cuidado é pouco nessa caminhada....

domingo, 1 de abril de 2012

Jusnaturalismo

"Os seres particulares inteligentes podem ter leis que eles próprios elaboraram; mas possuem também leis que não elaboraram. Antes de existirem seres inteligentes, eles eram possíveis; possuíam, portanto, relações possíveis e, consequentemente, leis possíveis. Antes da existência das leis elaboradas,havia relações de justiça possíveis. Dizer que não há nada de justo ou de injusto além daquilo que as leis positivas ordenam ou proíbem é dizer que antes de se traçar o círculo todos os rais não são iguais." (O Espírito das Leis - Montesquiéu).
Bem, nunca consegui imaginar um noção, por exemplo, de Justiça fora do homem, na Natureza. Para mim, não havia Justiça na Natureza. As relações naturais se davam ao acaso, podíamos até mesmo falar de equilíbrio, mas não de Justiça. Qual a Justiça que há em um animal devorar o outro para que se alimente? Qual a justiça que há em um macaco, por exemplo, ter como refeição os ovos de um pássaro? Não havia Justiça, e sim alguma forma de equilíbrio natural. Na faculdade quando abordávamos os professores a respeito do que era Jusnaturalismo, cada qual tinha um resposta confusa, normalmente comemçando por "existem duas teorias", etc. Qual não foi minha surpresa ao me deparar com o mais inteligente exemplo de Jusnaturalismo no excerto de Montesquiéu acima!!! Um belo conceito, sobre justiça possível, leis possíveis, já que havia seres humanos possíveis. A questão da possibilidade foi mais bem trabalhanda no século passado pelos existencialistas. É inegável a existência do campo das possibildades, e dentro deste campo tudo o que há nele é meramente uma relação de possibilidade com as coisas. Assim, Montesquiéu, muito antes já havia se dado conta desta relação do ser humano, e mesmo na ausência da vida inteligente neste planeta, de uma certa Justiça já dando à luz, da Justiça Natural. Eu não poderia dar prosseguimento à leitura do livro O Espírito das Leis sem antes fazer este pequeno comentário a respeito da passagem citada. Mas para mim, a inteligência deste pensador já está mais que fundamentada. Retornaremos ao livro...

sábado, 17 de março de 2012

O Que é a Verdade e a Relação Alma e Corpo

"Imaginemos um material, como metal derretido, derramado num molde para criar uma escultura. Quando o molde se quebra, o material sobrevive, mas deve sua forma permanente à experiência de ter estado no molde" (Herdeiros de Aristóteles, p. 191)
O metal aqui é nossa alma; o molde, nosso corpo com as experiência vividas nesse mundo. Essa é, para Tomás de Aquino, a relação alma e corpo, bem ilustrada por Rubenstein em seu livro Herdeiros de Aristóteles. Ao que parece, até mesmo Siger de Brabante (~1240 - 1284 - Filósofo averroísta belga), achou persuasiva a análise de Tomás de Aquino.
"Quando o molde se quebra", isto é, quando sobrevém a morte do corpo; a alma sobrevive, mas não mais se desliga da experiência de ter estado em um corpo sob experiências mundanas, de certo modo, o link permanece. Que proofunda a metafística tomista! Certamente embasada nos estudos bíblicos, teológicos e aristotélicos de Tomás de Aquino, mas ainda assim, apesar de plausível, não deixa de ser tão especulativa quanto outros metafísicos ao tratar deste tema. O frade franciscano inglês Guilherme de Occam (Ockham ~1285 - 1347) coloca as coisas de um modo diferente pelo que ficou conhecida sua navalha, a navalha de Ockham, ao separar fé e ciência, sendo que o que é da fé, é da fé, e só nos resta acreditar ou não, enquanto que o que é da ciência cabe comprovação, experimentos, relação de causa e efeito, pertence a natureza. Não se multiplica as entidades além do necessário, a natureza é econômica. De um outro modo, não se pode ficar querendo ver piolho em cabeça de cobra...
Mas será mesmo que o corpo é parte integrante da natureza do homem, ou ainda e melhor, da configuração da alma? "E o verbo se fez carne e habitou enter nós" (Jo, 1:1)
Diante do aqui exposto, prefiro acreditar que o corpo, a vida nesta Terra, neste planeta possui em sua essência um sentido para a vida após a morte, e que nossos atos enquantos seres humanos existentes nesse planeta vão sim fazer sombra sobre nossa alma na vida para além da morte. Por isso, moralmente vale o princípio Nietzscheano do Eterno Retorno, aquele que nos ensina a viver essa vida como se ela fosse se repetir incessantemente sempre igual. Viver intensamente, tornar a vida interessante, mas sem esquecer dos princípios cristãos, pois que Pilatos na presença de Jesus lhe perguntou "Que é a verdade?" (Jo 18:38), ao cabo que podemos encontrar sua resposta muito antes "Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida" (Jo 14:6)...

sexta-feira, 16 de março de 2012

A Alienação se propaga como o "poder" de Foucault

A alienação nos campus das universidades pelo Brasil a fora é algo incrível. Vou dar um exemplo aqui do Sul, mas que acredito se repetir por toda a extensão do nosso território onde existe centros educacionais. Durante o intervalo entre as aulas aqui da faculdade, sempre vamos à lanchonete dentro do campus universitário a fim de fazermos uma boquinha e curtirmos nosso momento diário de, digamos socialização. Muitos podem considerar momento de fofoca, de descontração, de folga, enfim. Aproveitamos sempre este momento para conversarmos sobre filosofia, religião, direito e outras matérias afins. Bem, nos últimos tempos o JJM tem sempre lembrado como essa população universitária, jovens em sua maioria entre 16 e 30 anos de idade, pois vinculado à Universidade em que estudo existe um colégio de ensino médio, vivem nesse mundo, o mundo universitário como se nada mais importasse, com se não houvesse fome, doenças e desgraças no mundo lá fora, pois que todo mundo parece feliz, bonito, saudável. Obviamente não precisamos viver como se essas realidades estivessem sempre ofuscando nossos momentos de felicidade, e talvez nem teríamos condições psicológicas para tal. Mas é notável como essas pessoas acabam agindo de tal modo que parece mesmo ignorarem totalmente a existência das mazelas humanas.
Bem, um outro exemplo que também o próprio JJM ressaltou há um tempo atrás, foi do ambiente que hoje os veículos automotivos criam. Quem entra dentro de um carro com um isolante acústico bom, liga o som e o ar condicionado, e sai mesmo por aí dirigindo como se nada mais "no mundo lá fora" realmente importasse, do que curtir esse momento de prazer que o veículo proporciona, ou seja ese momento alienado.
Isso para não falar da alienação provocada pela Internet e redes sociais, bem como celulares, ipads, e toda essa gama de parafernálias tecnológicas que praticamente nos acorrentaram nestes últimoas anos.
Exemplos típicos do dia a dia, muitos outros certamente poderão ser evidenciados. Assim talvez como em Foucault o "poder" está em todas as coisas, em todas as situações, inserido nas mais simples relações entre os homens, a alienação também não está só no operário de Marx, mas sim em todas as pessoas, nas relações humanas, nas mais variadas situações, nas nossas fugas diárias desse mundo cada vez mais hostil. Será que estamos agindo de forma correta, ou deveríamos tentar mais nos interarmos da realidade, vivê-la ao invés de fugirmos dela, e batalhar de forma sincera e justa para que ela seja melhor.
Bem, vale a reflexão....

domingo, 29 de janeiro de 2012

A Alteridade

       Muitas pessoas vivem infelizes mais por opção mesmo. É um absurdo o número de pessoas que não tentam sair de sua condição de infelicidade. Simplesmente não fazem nada, não aceitam ajuda e dissimulam um regozijo. Inventam desculpas, e colocam a culpa em "n" fatores, e mesmo quando descobrem serem elas mesmas culpadas ainda abusam do argumento de que se tiverem que sofrer vão sofrer. Isté é um cúmulo, uma maluquice, por quê, quem escolhe ser infeliz quando pode encontrar a felicidade? Com o tempo aprendi a detestar estas pessoas, pois lhes falta coragem, sentido e lógica. Fui então aprendendo também a evitar estas pessoas, pois acabam nos desencorajando também.
       Quando observo as pessoas, é certo que executo a análise com base nas minhas experiências, nas circunstâncias que me são possíveis, e reconheço que é uma análise ainda muito pobre. Mesmo assim, esse universo que observo só consegue  me dizer isso: não vale a pena! Pela minha idade e pelo modo como vivo, entendo que tenho muito mais para fazer e pensar em proporção ao desenvolvimento destes jovens de hoje. Isso ainda não é capaz de me constranger, pois entendo que a vida ainda é mais do que essa "decadence" que se apresenta a minha frente. Não, nada disso seria capaz de me paralisar. Posso, em certos momentos, sentir-me como se minhas palavras fossem roubadas. Mas quando, por exemplo, penso em Fernando Pessoa, que é um poeta com uma dimensão filosófica bastante dominante, e que não viveu nesse época, mas que sabia muito mais a respeito da vida e das relações do que qualquer um destes jovens ou mesmo mais do que eu poderia saber, não tenho como não idealizar a sociedade bem diversa daquilo que produzimos hoje. Por isso também, não abandono as filosofias, pois é um remédio contra o desespero. Às vezes, esse remédio, apresenta um efeito rebote, piora a doença, conduzindo-a até os limiares da loucura; outras vezes, alcança quase que a cura completa. Um remédio contra o tédio desta vida, com reações as mais variadas....
       Uma verdade impalatável é que as consciências alheias nos obervam e nos medem. Então é isso, cercados desses olhares, muitas vezes buscamos neles a medida certa daquilo que poderemos ser. Mas será que realmente esses olhares alheios sabem o que é melhor para eles, ou mesmo para nós? Não, obviamente, a história tem demonstrado vários exemplos disso. Então, não vale a pena viver para alimentar as perspectivas dos outros. Isso também não pode ser chamado de egoísmo, pois que não se está a ignorar a presença do outro, mas sim à transcender a experiência da imposição destes olhares. Quando dizem que o homem pode encontrar a felicidade em si mesmo, querem dizer que ele não precisa estar focado no que os outros esperam dele, mas naquilo que ele próprio espera de si, e isso acaba por se tornar muito mais fácil, quando se escapa da presença esmagadora dos olhares humanos. Sabe-se lá por quais lentes estão estas pessoas olhando o mundo...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Como Participei da Enchente de 2011

“Usando de bastante sinceridade, para mim pelo menos, esta enchente teve a vantagm de me proporcionar a realização de horas extras aumentando assim meus rendimentos, em um período em que normalmente eu estaria dormindo, além de que acabei por não perder a apresentação de um trabalho de faculdade, pois nem mesmo aula teve, ficando a apresentação para um outro dia passível de minha presença. Até agora, só foram vantagens para mim a partir do momento em que essa enchente foi anunciada...

O plantão está calmo, estou tranquilo e consegui dormir cerca de duas horas e trinta minutos. Dormi mais do que durmo muitas vezes quando estou em casa. Claro que me compadeço da situação alheia, os desabrigados, mas o que eu posso estar fazendo, de certo modo já estou. Enfrento esta situação com sinceridade.”

Escrevi o que vai aqui em cima durante a enchente de 2008, cuja qual me deixou de plantão no CTI. Realmente, não que eu não tivesse consciência do que estava ocorrendo lá fora, mas queria relatar as coisas a partir do que eu estava vivendo, e não do que sabia que estava acontecendo. Então, um acontecimento catastrófico destes teve para mim consequências meramente positivas. Certamente, outras pessoas também tiraram vantagem da situação e ainda irião tirar, por exemplo, os donos de supermercados aumentando os preços de água e produtos de limpeza. Não agi com maldade, fiz meu serviço na medida do que eu poderia ter feito, não fui um covarde. Não deixei de encarar a situação, mas enquanto Enfermeiro o melhor que eu poderia fazer era realmente estar ali no CTI, cuidando dos pacientes internados, organizando o serviço, atendendo as necessidades dos técnicos em Enfermagem, principalmente de sono, descontração, motivação, para que pudessem continuar prestando seus serviços mesmo diante da pressão das circunstâncias.

Eu tinha plena consciência também de que em breve tudo voltaria ao normal. As pessoas que eu realmente me importava, estavam em segurança, como minha filha por exemplo. Então, não adiantava nada eu agir em desespero, ficar nervoso, preocupado, etc. Depois eu iria raciocinar muito melhor se estivesse de cabeça fria e se não me deixasse convulsionar pela tensão do momento. Destarte, procurei agir, foi a melhor forma que encontrei naquele momento. Cinquenta horas praticamente, ininterruptas, salvo os intervalos para sono e as escapadinhas fora do hospital para fumar, foi o tempo que passei junto com minha equipe, totalmente ilhado. No sábado de manhã, quando as águas haviam baixado, antes de ir embora, ainda montei e organizei uma nova equipe, ligando para a residência dos outros funcionários, questionando se foram ou não atingidos pela enchente e vendo quais poderiam vir para substituir os anteriores que estavam já nitidamente esgotados.

Nessa mesma época da enchente eu passava por um momento difícil em minha vida, e queria mesmo descontar tudo no trabalho. Então estar lá dentro queira ou não era uma válvula de escape. Deste modo, também podemos muitas vezes encontrar positividade em uma guerra, apesar de eu ser contra qualquer tipo de violência, física ou moral, mas não é de se negar que em uma batalha não haja para alguns pontos positivos. É um jogo de ganhar e perder, em certos momentos a gente ganha, em outros a gente perde. Eu ganhei além das horas extras pagas corretamente pelo hospital, experiência, de modo que não temeria nem um pouco ter de ficar de plantão em uma outra enchente, apesar de saber também que uma enchente nunca é igual à outra. Mesmo assim, espero ao menos conservar o mesmo espírito que fez com que eu passasse quase ileso pela primeira. Digo quase, porque algumas conseqüências devo ter sofrido, principalmente no que tange à saúde. Mas, tudo agora já está digamos superado. Fica na memória um momento em que eu me orgulhei de minhas atitudes, de meu posicionamento, e até mesmo da minha escolha de ser Enfermeiro. Tomara que isso conte para o homem lá de cima, se bem que no fundo, ele também poderá dizer que tudo que fiz foi só por vaidade...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Uma Noite com Minha Avó

                               Sentado ao lado da minha avó materna deitada no que provavelmente será seu leito de morte, enquanto ela geme, eu escrevo estas linhas que aqui vão. Não é nada confortável participar do sofrimento de qualquer pessoa, mas talvez principalmente de alguém a quem se estime.
                               Bem, deste pequeno, a casa da minha avó era para mim algo sagrado, e eu sempre nutri um respeito por ela quase religioso. Minha avó era como uma pessoa pura, sem pecados e seu abraço quando nos recepcionava só vinha a confirmar isso ainda mais, bem como sua história de vida, o respeito que os filhos lhe impingiam. Queria agora poder consultá-la, por exemplo, no que tange o momento de minha vida, pelo qual estou passando, pois ela tinha sempre palavras sábias. Saberia assim, como ninguém, sem dar conselhos, sem nada, iluminar-me o caminho.
                               Tive que parar de escrever agora para atender à solicitação dela de água. Ela continua gemendo, seu pulso e sua respiração estão rápidos. Enquanto escrevo aqui, estou segurando o pulso dela. Meu receio é que ela morra de fato justamente esta noite, quando que a família não se encontra preparada para tal , arriscando até mesmo que alguns possam achar que eu tenha sido o culpado pela sua morte. É triste, lamentável mesmo, que alguém com uma vida como a da minha avó esteja ainda precisando passar por isso. Ela também sempre foi uma cristã devota. Nunca irei entender os desígnios de Deus, não são mesmo para serem entendidos.
                               Ela está delirante agora, diz que ela mesma quer fazer uma sopa, mas que tem que ser na sua casa, e que se assim fosse comeria com gosto. Também chama pela Dioclésia (nome fictício, somente para preservar a identidade das pessoas) uma de suas filhas, que não está aqui. Mas ela chama como se essa filha estivesse. Acabei de deixá-la novamente em decúbito dorsal, e reposicionei suas pernas. Às vezes, ela da um suspiro profundo que termina com uma série de gemidos, outras vezes ela começa a soluçar.
                               Há quinze anos ou mais quando ela orava comigo nesta casa, jamais poderia prever que a sala onde oravamos se tornaria seu quarto, e que eu estava aqui ao seu lado, praticamente já a velando. Minha mãe dorme no sofá em frente. Eu sei que ainda poderei ver essa cena se repetir de forma ainda mais intensa para mim, no caso de ser minha mãe que eu estivesse agora fazendo o papel que estou. Também não sei se reagiria da mesma forma com a qual estou reagindo agora aqui com minha avó materna. Desconfio que talvez ela esteja evacuada. Sinto um leve odor de fezes que não tenha certeza se é isso, mas como ela está gemendo muito pode realmente ser. No entanto, o meu nariz também já não está tão treinado para saber se é ou não, em decorrência dos anos cuidando de doentes nos hospitais em que atuei primeiro como Técnico em Enfermagem, depois como Enfermeiro, onde por fim o cheiro muitas vezes já se confundia com o próprio cheiro do ambiente, era o próprio cheiro do ambiente em alguns casos.
                               Nesse instante, acabei de virar ela para o lado esquerdo, ao que ela parou de gemer. Parece que nessa posição na minha avó se acomodou melhor, ou o fato de ter sido movimentada fez com que percebesse a presença de alguém por perto, o que lhe acalmou. Mas sua respiração está ainda ruim. Nessas horas chego a me questionar se não é melhor a internação em um hospital, onde ela receba ao menos uma analgesia mais forte, em alguns hospitais estaria até mesmo na UTI, intubada, sob sedação. Mas sei também que o custo de uma internação hospitalar não é barato, nos últimos sete dias que minha avó ficou no hospital antes de voltar para casa, meu avó gastou em torno de R$ 8,000 só com a internação, fora os gastos com as viagens, alimentação, etc. Não que ele não tivesse condições de bancar, mas não sei se não seria um desperdício, sendo o fim o mesmo. Se internasse pelo SUS, teria uma acomodação bem pior, restrição de visitas, etc. Agora ela parece dormir, no entanto, seus olhos permanecem abertos. O que ela olha eu não sei. Ainda há pouco iniciou uma estranha oração que me deixou muito espantado, pois nitidamente pela sutileza da utilização dos pronomes pessoais, diria que se trata de um texto bíblico, mas ela proclamava de tal forma que mais parecia estar tendo uma conversa com algum santo, ou com o próprio Deus. Deve ser só imaginação minha mesmo. Vou aproveitar esse momento de silêncio dela, para ir à rua fumar um cigarro. Espero não ter que apagar o cigarro pela metade por causa de algum gemido dela.
                               A clorpromazina que lhe administrei, um antipsicótico do grupo das fenotiazinas, deve ter feito efeito. Deu para fumar todo o cigarro, beber um gole de café e ainda comer algumas broinhas. Depois um gole de água, escovar os dentes e pronto. Tem que se andar muito devagar, pois o assoalho estrala todo. Fui à rua e misteriosamente os sapos pararam seus coachos. Ouvia-se apenas o barulho do riacho, os grilos noturnos e alguns gados mugindo longe. Lá fora, a natureza seguia seu curso normal, fazendo sua justiça que em nada tem haver com a nossa. Na natureza, há um sentido! Queira ou não, dentro desta casa a Natureza também agia.
                               Reparo o rosto de minha avó que onde antes estavam as bochechas agora está uma cova de cada lado do rosto. Seria o momento certo para dormir, porque ela ainda permanece quietinha, mas não posso correr o risco de minha avó morrer sem que ninguém perceba. Apesar de seus olhos terem se cerrado, suas mãos não param. Ela retira a coberta de cima do tórax, mas pelo menos suas mãos não estão cruzadas sobre o peito como ainda há pouco. Sua respiração ainda é ofegante. Minha mãe começa a ressonar no sofá. Mesmo dentro de casa ainda ouço os grilos lá fora, e o tit tac do relógio de parede aqui dentro. Minha mãe começou a roncar, espero que não acorde minha avó. É bom que ela durma, pois no meio da madrugada vou revezar com ela. Meu avô deve estar dormindo. Está no seu quarto e como não ouço nada, e a luz parece apagada eu espero mesmo que esteja dormindo, pois que já está na idade de oitenta e poucos anos (desculpem se não sei sua idade exata) e consta ainda que nada dormiu na noite passada, pois ficou cuidando de minha avó toda a noite. Ele dizia hoje no início da noite que não estava com sono, mas seus olhos vermelhos não o deixavam mentir. Nessas horas ainda consigo pensar nos meus problemas. Minha mãe acorda agora e me vê escrevendo, volta a dormir. Escrevo à mão para que o barulhinho das teclas do teclado não perturbe minha avó, ou mesmo minha mãe. Já um mosquito irritante veio três vezes zumbir no meu ouvido. Tentei esmagá-lo, em vão. Os cachorros de minha madrinha, que fica há uns cem metros daqui, começam a latir.
                               As quatro da madrugada meu avó acorda, acende a luz e tenta conversar alguma coisa com minha avó, que pouco responde. Logo ele volta a dormir.
                               Do meu lado direito na parede, tem uma foto do casal já velhinhos, com seus dez filhos. A maioria está séria. Acima e atrás na parede ainda na mesma foto um crucifixo, cujo fotógrafo, conseguiu a destreza de “cortar” a parte superior, mas ainda assim Jesus Cristo aparece por completo, posto que está pendurado pelas mãos. Do meu lado direito ainda, e bem do lado da poltrona que estou sentado, um presépio simbolizando o nascimento de Jesus, na manjedoura, com o carneirinho, o burrinho, uma vaca, José e Maria. Ficaram faltando os três reis magos. Alguns insetos voam em torno do abajour aceso, única luz a clarear este momento lúgubre...
Diante de toda a dificuldade que com meus próprios olhos fui capaz de ver, no que tange a situação de saúde de minha avó materna, percebo que, apesar do câncer em sua pelve que já se espalha pelo abdome, apesar da dor que muitas vezes a faz gemer, pedir socorro, existe um grupo de pessoas que acabam por estarem de certa forma precisando de mais ajuda do que minha própria avó. Um grupo de pessoas com uma carência psicológica, uma família incapaz de lhe dar com os conflitos internos da vigência de perderem um dos membros fundamentais, um dos seus pilares. Não se espera mesmo racionalidade em um momento como estes, mas o mínimo ao menos de bom senso se deveria esperar. Críticas veem afetar as pessoas que talvez sejam as que mais estão desempenhando esforços no sentido de cuidarem deste doente, e parte normalmente daquelas que menos esforço estão empregando. A família tenta se organizar, para que todos passem a desempenhar o papel de cuidadores, mas não é fácil, porque em meio a correria do dia a dia, sufocados pela rotina macerante do trabalho, não conseguem um momento de fuga em que possam gozar, por assim dizer, destas últimas horas com essa pessoa que foi quem cuidou e alimentou estes outros até chegarem a idade de andarem com suas próprias pernas, ou seja, de se autossustentarem. Claro que não posso falar de todos, além do tempo, também tem as limitações pessoais de cada um, em lhe dar com esse tipo de situação, isso também deve ser respeitado, obviamente.
                               De quando em quando minha avó emerge de seu sono para em uma semi-lucidez solicitar água, chamar pelo seu esposo E., pedir ajuda. Seu olhar é perdido, ela tenta mirar os rostos das pessoas, mas não emite qualquer expressão que denote que os tenham reconhecido.
                               A noite finalmente terminou, a quinta-feira veio com uma manhã de serração, uma manhã tranqüila neste interior. Muitos pássaros rodeiam a casa com seus cantos. Alguns insetos ainda são audíveis, grilos para ser mais preciso. As cigarras devem começar seus cantos mais tarde, caso saia sol. Minha avó está mais tranqüila, mas não quis se alimentar, pediu apenas água. Está acordada, mas não geme no momento. Eu termino de redigir esse texto olhando para ela, ou para o que representa ser ela nesse instante, mas lembrando de como ela foi...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A vida? É mesmo um engano...

Somos prisioneiros do nosso passado. Mesmo que, como muitos dizem fazer, risquemos algumas páginas de nossa vida, ou simplesmente as arrancamos, lá no fundo de nossa consciência essas páginas continuam acesas, e de vez em quando veem iluminar ou obscurecer nossas vidas no momento que denominamos "presente". Também não é diferente com nosso futuro, o campo das possibilidades que se destaca a nossa frente a cada segundo que vai se aproximando, também nos acorrenta, porque não podemos viver sem perspectivas. Até mesmo à beira da morte, ainda temos a perspectiva, ou se já não temos consciência para tal, existem os outros que as alimentam. Prisioneiros do futuro e do passado, o que fazemos com o presente? O presente se bem entendido não existe, porque ou já foi, ou ainda será.

Então, seres dotados de consciência, vivemos à margem do que fomos e do que seremos, muitas vezes sem mesmo termos o controle sobre isso. Mas não justifica nossa inautenticidade. Mesmo diante dos erros e acertos do passado e das possibilidades do presente, continuamos nossa jornada, e seguimos realizando escolhas. Abdicar certos prazeres momentâneos para gozar de prazeres reais em uma vida futura pode parecer uma escolha assertiva, mas caso o acaso nos pregue uma peça e nos tire a vida de forma repentina, antes de gozarmos destes tais prazeres reais, nossa escolha foi uma mera perda de tempo. Então, sem ter certeza do que vai acontecer, sem poder prever qualquer coisa sobre o dia de amanhã, sobre as próximas horas, sobre mesmo o próximo segundo, seguimos realizando escolhas, adotando posturas, decidindo, influenciando, determinando, etc. A questão é tentar se aproximar ao máximo daquilo que se almeja, e utilizar de todos os meios possíveis para tal, isso é viver uma vida autêntica. No entanto, ainda assim, é difícil até mesmo saber o que realmente almejamos. E também, tem o risco de depois de alcançado aquilo que realmente almejamos não conseguirmos focar em mais nada grandioso. A busca é melhor do que o encontro.

Sendo asssim, o que é a vida de um indivíduo? O que são essas horas que passamos sobre essa Terra que aparentemente traz mais dor do que outra coisa? Sempre me perguntei sobre o sentido disso tudo, e é normal que em alguns momentos esse questionamento leve ao desespero, porque simplesmente, não há o que saber sobre o sentido da vida. Cada qual dá o sentido que achar justo. Esse andar sobre esse planeta, esse deslocamento, essa necessidade de se relacionar, porque é praticamente impossível a vida sem a relação com o outro, é o que temos de mais humano, e surpreendentemente, é uma condição também meramente animal. Então, somos animais dotados de consciência que não sabem o que fazem nesse planeta, necessitando o tempo inteiro criar aqui e ali aparências que tomam a forma de sentido para nossas vidas. Talvez seja o que fizemos com a religião, com Deus, com a origem do Universo, com nossos ídolos. Mas é tão difícil admitir que o Ser Humano é apenas um erro!

Nesse vai e vém o tempo vai passando, nossa vida vai se cumprindo e vai chegando a nossa hora. O que me incomoda nesse momento é que agora eu tenho passado. Porque antes o que eu tinha como passado, eram recordações que de certa forma eram boas, e também faziam sentido, era uma evolução: infância, adolescência, juventude. Agora, o que eu tenho de passado, é um amontoado de anos tentando fazer não sei o que, andando não sei para onde, projetos que não deram em quase nada. O que eu tenho de passado fez sentido só no momento que estava sendo vivido, agora é como se fosse o passado de uma outra pessoa, porque eu nada tenho para fazer com isso. Mesmo assim, esses períodos não me abandonam e de tempos em tempos veem aqui me lembrar do que fui, do que fiz ou não fiz, por onde andei.

Concluindo, a vida é um engano mesmo! Mas também não adianta nada ficarmos remoendo isso, o único jeito e dar o próximo passo, é seguir o curso das coisas, é tentar quem sabe produzir algo, gerar, ocupar o tempo. Nesse sentido a minha vida se equipara a vida de qualquer um outro, porque por mais que esse outro tenha feito, por mais que tenha vivido, viajado, experimentado, ele é o que sou, apenas mais um nesse planeta, correndo atrás de algo que talvez seja apenas uma tolice. Quem vai saber? Enquanto nos questionamos o tempo vai passando, e até onde sabemos, só temos essa vida, esse planeta e as pessoas que nele estão vivendo. O negócio é aproveitar nosso momento, nosso instante de passagem por essa Terra, para tentar quem sabe ao menos ser sublime. Já que fomos dotados de inteligência, por assim dizer, então que ao menos possamos fazer jus a isso. Ou não, ou ficamos por aí, só curtindo mesmo onde a corrente vai nos levar. Não sei, vive-se, e deu!

domingo, 1 de janeiro de 2012

Dia 1º

Bom, não é possível se afugentar do velho chavão e deixar de escrever no dia primeiro do ano sobre o significado desta passagem de ano. Bom, 2011 foi cinza para mim, a partir de sua segunda metade. Espero viver em 2012 o período de Aurora, como o próprio Nietzsche se referia ao período em que começou a se recuperar de sua doença. Mas não é por culpa dos acontecimentos não que 2011 foi cinza, é por culpa minha mesmo, na maioria das situações. Eu mesmo não me organizei, não fiz as coisas da maneira como deveria ter feito. Bem, se mais alguém se sente assim, bem-vindo ao clube dos displicentes. Todavia, que tenhamos a ousadia de sair deste lodaçal e encarar a vida como tem que ser encarada!
Ontem postei a seguinte frase no facebook "que a chuva lave a podridão de 2011", pois que chovia muito aqui, ao cabo que um amigo escreveu logo abaixo de minha postagem "vai faltar chuva!", de fato, haja chuva! Também achei muito interessante a colocação do PC Siqueira, dizendo que é muito otimismo das pessoas pensarem que o mundo vai acabar em 2012. Realmente, é querer demais!!! O negócio é continuarmos por aí, enquanto Deus assim consentir, vamos remando e conduzindo nosso barco, às vezes soltamos ele ao sabor do vento, outras vezes remamos contra a maré, mas de preferência para frente sempre.
A respeito do blog, ele estava bem parado, vou tentar ser mais diligente e manter ele atualizado ao menos diariamente. É que tenho pavor de me repetir, e então, para evitar ficar batendo sempre na mesma tecla, prefiro calar. Também, posso dizer que estava sem tempo e isso era verdade, agora pelo menos vou ter a manhã e a noite para escrever.
Abraços aos que me acompanham...
Feliz 2012!