sábado, 28 de maio de 2011

Uma Verdade sobre a Verdade

Bem, tenho andado meio devagar em minhas postagens, não é falta de assunto nem criatividade, é tempo mesmo. Só quero dizer aos  amigos que logo estarei bem mais assíduo. Isto porque, logo vai acabar mais um semestre da faculdade e também porque vou mudar de horário no trabalho, o que vai me permitir maior flexibilidade, dando possibilidade a postagens diárias novamente, talvez até mesmo mais de uma por dia. Enquanto isso não vai ocorrendo, vou anotando tudo.
Encontrei esta semana um amigo de infância que há muito não via. Ele me deixou uma frase que carrego comigo e que acredito ser importante compartilhar aqui. Estávamos conversando sobre a Verdade, ao cabo que ele disse, essa procura pela 'verdade' é já a Verdade. Há um pouco de sentido e razão nisso, em vista que, enquanto procuramos, outras descobertas vamos fazendo ao longo do caminho, e este caminho acaba por ser o nosso e acaba por ser o que somos e o que fomos capazes de sermos. No fim, isto se constituirá em nossa verdade, porque foi nisso que investimos nosso tempo e nossa disposição. Bem, ficamos assim, meio existencialista na nossa concepção de verdade, mas não totalmente. Talvez, esta seja uma linha a ser mais explorada. Quem sabe em outro post.
Bem, vou ficando por aqui, aos interessados, ainda não concluí meu estudo sobre a Microfísica do Poder, de Foucault.. Até o presente momento, tenho uma posição ambígua em relação a questão do poder. Ainda desconfio um pouco de Foucault, apesar de estar bastante interessante tomar partido dos seus pontos de vista sobre as coisas. Foucault é bastante inovador!. Bem, nada mais natural para um acadêmico de Direito, toda essa desconfiança em assumir tais relações de poder, apesar de muitas vezes parecerem tão óbvias, naturais e por vezes até necessárias, talvez até por estar acostumado a ouvir falar de Hans Kelsen em quase todas as disciplinas do curso.

sábado, 14 de maio de 2011

"Os Intelectuais e o Poder" - Uma Síntese

 
        No livro Microfísica do Poder, de Michel Foucault, encontramos o título "Os Intelectuais e o Poder" para um debate entre o próprio Michel Foucault, e outro intelectual francês, Gilles Deleuze. Este último, inicia o debate justificando sua participação no movimento maoísta, demonstrando que se confunde ainda a relação teoria e prática, quando se exige uma relação direta destas duas, diferente do que o coloca em contato com este tipo de luta social, onde as relações teoria-prática são muito mais parciais e fragmentárias. E ainda continua, para nós, o intelectual teórico deixou de ser um sujeito, uma consciência represetante ou representativa. Essa última colocação de G.D, acaba por alcançar Sartre, no que tange a idéia de intelectual engajado. Nesse sentido, Foucault contribui O intelectual dizia a verdade àqueles que ainda não a viam e em nome daqueles que não podiam dizê-la: consciência e eloquência., hoje, o papel do intelectual não é mais o de se colocar 'um pouco na frente ou um pouco de lado' para dizer a muda verdade de todos; é antes o de lutar contra as formas de poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o objteto e o instrumento: na ordem do saber, da 'verdade', da 'consciência', do discurso.". Até aqui, creio que não haja dúvida de que estão parodiando Sartre em sua noção de intelectual engajado, demonstrando sobretudo que houve uma transmutação de valores entre os intelectuais do passado, e os intelectuais necessários no presente.
       Definida a posição do intelectual, o discurso entre ambos, passa agora a representar as formas de poder encontradas, bem como a idéia de difusão desse poder, contrária a de totalização. Vejamos... Para Foucault, que estudou a princípio a História da Loucura ( cujo enunciado, é título de um de seus livros), relacionando o sistema psiquiátrico - o hospício, a um método coercitivo, uma forma de prisão, passando daí ao estudo das prisões, presente no livro Vigiar e Punir, não será que, de modo geral, o sistema penal é a  forma em que o poder como poder se mostra da maneira mais manifesta?, e ainda, A prisão é o único lugar onde o poder pode se manifestar em estado puro em suas dimensões mais excessivas e se justificar como poder moral, aspecto este indubitável, pois quer se queira, quer não, a prisão acaba por representar a única forma de coerção com uma legitimidade moral, sendo que todos entendem e acabam por, de uma maneira geral, aceitar que quem está na prisão, que o preso, está lá, porque foi desonesto com a sociedade, porque roubou, matou, estuprou, etc. O poder nas prisões é descarado, ele não precisa de subterfúgios, porque é "justificado". Após essa explanação, G.D. lembra que, além dessa relação de poder coercitivo, existem outras como a escola e a indústria, que também acabam por ser legitimas, mas que um pouco diferente das prisões, atuam com certa diligência, mas que, mantém uma cópia do sistema penal, no sentido da aplicação dos horários, das regras, da relação de seus representantes, os professores, os patrões, com os que estão em uma relação de inferioridade, os alunos, os trabalhadores. O poder é apresentado então de forma difusa, contrariando a idéia de totalização, por não ter um único representante, não provém exclusivamente do Estado. Foucautl conclui que onde há o poder, ele se exerce. Ninguém é, propriamente falando, seu titular; e, no entatno, ele sempre se exerce em determinada direção, com uns de um lado e outros do outro. Assim, contrária a idéia de Estado totalizador, contrária mesmo a idéia de Poder representado unicamente pelo Estado - como no Positivismo, a idéia de poder em Foucault é uma relação, presente em várias formas da nossa sociedade. E é lá, nas prisões, nas escolas, nos comissariados, nas fábricas, que a realidade está acontecendo efetivamente (Deleuze),  e onde o intelectual deve estar inserido e poderá ser encontrado.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A "Verdade" em Foucault.

Para Foucault, pelo que pude captar em seu livro Microfísica do Poder, a "verdade" é exclusivamente utilitarista. Não existe uma "verdade" fundamental, primordial, única. Não existe também, a "minha verdade", ou melhor, a verdade de cada um. Existe sim, uma "verdade" "circulante, ligada a sistemas de poder, que a produzem e apoiam, e a efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem." Neste caso, a verdade está relacionada aos elementos de poder, que acabam por nos influenciar na formulação de nossas verdades. Deste ponto de vista, o que chamamos por "nossa verdade" acaba sendo uma verdade pré-programada para nos ocupar, de uma forma ou de outra, a partir das relações de poder. Este regime é visto tanto no capitalismo quanto no socialismo, utilizando-se de mecanismos contrários, um por influência, outro por imposição, mas chegando ao mesmo resultado, o de nos encaminhar à verdade deles. A verdade então pertence a este mundo, e é produzida "graças à multiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua 'política geral' de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e a s instâncias que permitem distiguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneiroa como se sanciona uns e outros; as técnicas e procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que tem o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro." Aqui, vejo até uma certa conotação ao discurso de Sartre de que "escolhendo-nos, estamos por escolher aos outros", no sentido da influência de nossas decisões, nem sempre apreendidas por nós, e muito menos possíveis de serem captadas em sua totalidade. Pensando numa escala ascendente, os aparelhos econômicos maiores influenciando os aparelhos econômicos menores, na suas tomadas de decisões, no contexto de suas vidas, nos caminhos por eles tomados. Não sei se compartilho ainda do mesmo posicionamento de Foucault, é algo que ainda não consegui obter uma formulação precisa. Talvez pela novidade do conceito, ou quem sabe pela obviedade do mesmo. Não sei, para mim, a verdade ainda está em algum lugar, o qual por qualquer razão, não consegui até o presente momento alcançar. Esta "verdade" de Foucault, é muito mais politica, está  mais a explicar nossa esfera de relação com as instituições, com o aparelho estatal, com os regimes de poder, que propriamente ser o conteúdo do que poderíamos identificar como sendo uma "verdade" irrefutável, capaz de orientar o caminho, que denote certa organização da vida, da existência.

*Os textos em itálicos são citações direta do livro Microfísica do Poder, Capítulo I, Verdade e Poder.