terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Suicídio!

       "Por que não cometemos suicídio?" Levantei essa questão em um texto aqui nesse blog http://diariodeigan-h.blogspot.com/2011/01/verdade-sobre-verdade.html e uma leitora solicitou que eu expressasse meu pensamento sobre o suicídio. Com efeito, não poderia deixar de fazer isso de outra forma sem ser escrevendo neste blog. Contudo, é um empreendimento difícil tratar do suicídio. Quando levantei a questão abordada acima, referia-me a consciência que deveríamos ter da morte, ao fato de essa consciência não ser assim tão forte quanto imaginamos ser, até porque nós, seres humanos, sempre acabamos por esperar que algo impossível aconteça. À isso muitas vezes damos o nome de Esperança. Essa minha idéia já me acompanha há a alguns anos, e num ensaio filosófico chamado Século XX eu já havia desenvolvido esta concepção bem como umas outras a respeito de Deus e da Moral. Esse ensaio resulta inacabado por faltar algo como a ladainha da "Verdade Universal". Já que não temos essa resposta, vou aproveitar então a solicitação da leitora e tratar aqui sobre a décima causa de morte no mundo. Dispensável dizer aqui o que é o suicídio, vamos tratar então de seu sentido e de suas causas. Detalhe, trataremos do suicídio humano.
       Primeiramente, eu deveria destacar o que alguns autores pensam sobre o suicídio. Quando me propus a escrever sobre o tema, três pensadores ocuparam de chofre minha mente, e para estes eu dispenso qualquer pesquisa auxiliadora, visto eu já os ter estudado previamente. Primeiramente, eu me lembrei de Nietzsche, como não seria difícil de imaginar aos que acompanham este blog. Nietzsche aborda o suicídio como um ato de coragem, um ato nobre. O homem que escolhe sua hora de morrer deveria quase ganhar o direito de viver novamente, não são com estas palavras exatamente que ele coloca a questão, mas o sentido da frase é o mesmo em Nietzsche. Ele enchergava nisso um ato de liberdade; o próximo pensador que me veio a mente foi Durkheim, esse sociólogo escreveu um livro intitulado "O Suicídio" em que aproximava as causas dos atos suicídas as relações sociais. Foi aí que identificou através do resultado de pesquisas (é bom sempre desconfiar das pesquisas destes sociólogos) situações sociais que se relacionavam com o aumento do suicídio em determinadas áreas; ainda o outro pensador que eu gostaria de citar é o próprio Sartre. Para o existencialista a morte era um absurdo. Sartre compreendia todo o sentido da vida, desde que a morte não existisse, a morte acabava por ser o absurdo da vida. Mesmo para um filósofo da liberdade, o suicídio passa a ser um ato nefasto. O suicídio para Sartre é um fracasso ou uma fuga. Além do que, a partir do suicídio o indivíduo estaria violando a possibilidade de ser útil a si mesmo e aos outros. Sartre entende que o homem deve se salvar aqui nessa terra, e não em uma outra vida no além, e a partir de suas ações. É isso que tenho a acrescentar ao entendimento do suicídio segundo certos autores.
       Agora vem o momento mais difícil, vou tratar do suicídio por mim mesmo. Devo dizer que compartilho do pensamento de Albert Camus, ou ele do meu, visto que só depois eu percebi que pensava como ele. Para Camus e  para mim "Decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia". Qual a pergunta? Alguém se habilita a responder? É a pergunta que me persegue: qual o sentido da vida? Mas ainda assim, por mais desejo que tenhamos de nos matar, não sei como alguém pode realmente chegar a esse ponto e não pensar ainda como Sartre em como pode ser útil para os outros. Faltou-lhe quem sabe aquela coisa chamada Esperança.
       Todos somos suicídas em pontencial. Até mesmo aquele que afirma com toda veemência que jamais cometeria suicídio pode um dia estar aplicando este ato. Tudo vai depender também do momento que estamos vivendo, do que acontece em nossa volta, da situação, e nesse caso acabo por compartilhar um pouco com a idéia de Durkheim. E não aceitaria uma visão do suicídio como um ato nobre, mesmo que um homem pensasse que sua obra nesta Terra estava terminada, que nada mais restava fazer, que já tinha se salvado por si mesmo e alcançado a glória nesse mundo, ainda assim, não conseguiria compreender como ele seria capaz de fechar o livro de sua vida. É ignorar as inúmeras possibilidades.
       O suicído também pode estar relacionado com transtornos mentais, sendo os portadores de esquizofrenia e transtornos de humor os tipos mais comuns de comenterem suicídio. Quanto a isso, é uma desordem mental, o indivíduo na maior parte das vezes não está agindo à luz da razão, e acho que o ato se perde por si mesmo, pelo fato de ser patológico. Só se mata mesmo aquele que tem intenção de se matar. O suicídio causado por um transtorno psicquiátrico, quando o indivíduo acometido de alucinações sai correndo e se atira pela janela imaginando estar no térreo, quando estava no décimo andar, não chega a ser suicídio com toda a apreensão do termo. De qualquer modo, ainda resulta um pouco confuso o julgamento, porque não poderíamos estar presente na mente desse alucinado, para saber se naquele momento ele realmente estava em surto ou não, se já não estava agindo conscientemente para quem sabe se livrar do sofrimento. E, nesse caso, poderíamos considerar o ato um suicídio. Qualquer aproximação de nossa parte ainda seria grosseira. Como diria Durkheim, até ao observador interior a intensão do ato se oculta, pois quantas vezes nos enganamos sobre as verdadeiras razões que nos levam a agir.
       Desculpem eu tomar uma abordagem filosófica para tratar do suicídio, e não psicológica. É nítida minha inexperiência com este tema. Gostaria de penetrar na mente de um suicida e trazer para cá os seus conflitos internos, suas pertubações, suas convicções se ele tem alguma além da idéia de se matar. Gostaria de poder dizer com toda a certeza, o suicídio é causado por tais circunstâncias, e é determinado por tais fatores. Porém o sentido de um suicídio nos escapa de longe. Muitas vezes os motivos que levaram uma pessoa aparentemente normal a por fim em sua vida não nos alcança. Apesar disso, não creio que ela tenha alguma verdade maior do que as que eu posso ter. Nego qualquer misticismo em torno deste tema.
      Resta dizer, a vida pode ser um dom de Deus que nos é concedido, e se assim for não deve ser desprezada. O que tenho a dizer é para apreciarem as suas vidas bem, e devagar...

2 comentários:

  1. Suicídio é realmente um tema muito complicado.
    É preciso muita coragem para desfazer-se do nosso bem mais precioso.
    Tive um primo querido que cometeu suicídio há algum tempo.. Imagino que deva ter sofrido muito até chegar à conclusão de cometê-lo.
    Na prática, deve ser algo muito mais complicado... Muito mais.
    Aquele abraço!
    http://arfh-arfh.blogspot.com

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  2. Fiquei pensando na nossa conversa ...resolvi colocar esses versos !!!
    A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
    Cahiu pela escada excessivamente abaixo.
    Cahiu das mãos da creada descuidada.
    Cahiu, fêz-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.


    Asneira? Impossivel? Sei lá!
    Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
    Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.


    Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
    Os deuses que ha debruçam-se do parapeito da escada.
    E fitam os cacos que a creada d'elles fêz de mim.


    Não se zangam com ella.
    São tolerantes com ella.
    O que eu era um vaso vasio?


    Olham os cacos absurdamente conscientes,
    Mas conscientes de si-mesmos, não conscientes d'elles.
    Olham e sorriem.
    Sorriem tolerantes à creada involuntária.


    Alastra a grande escadaria atapetada de estrêllas.
    Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
    A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
    Um caco.
    E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou alli.

    Versos: Álvaro de Campos
    BJOS!!!!Justine
    Ps : Espero que entenda o que eu quis dizer

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