terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Dias de Nietzsche em Turim

      Estou doente! Sem sombras de dúvida que estou doente! Não posso me relacionar nem com o que há de mais elementar em mim. Procuro uma fórmula que me salve de mim mesmo, e por todo o lugar por onde a procuro, não a posso encontrar. Encontra-la-ei algum dia? Quem poderá saber?
      Acordei as três horas e me pus -- depois de um banho em que tentava me sentir humano novamente -- à reassistir a obra cinematográfica brasileira Dias de Nietzsche em Turim. Tenho uma visão tão particular de Nietzsche que o filme por vezes me parece uma ofensa. Sim, há princípios de humor na obra,  não é como se estivessem ou mostrando a verdade ou enaltecendo o filósofo. É como se estivessem lhe tirando sarro!  Não é um drama biográfico, é uma sátira. Não gosto disso, apesar de toda a situação, Nietzsche deve e deverá sempre ser respeitado, ele é um destruidor de paradigmas, e nos deu, de certa forma, uma possibildade nova de enchergarmos a vida. Bressane, o diretor, acerta ao menos em utilizar a noção de Eterno Retorno no filme, pois esse é um dos grandes pilares do pensamento nietzscheano, pois é a partir da consciência do Eterno Retorno que a pessoa se prepara para executar a Transvaloração de Todos os Valores. Por isso o existêncialismo ateu está ligado ao pensamento de Nietzsche, porque assim como o Eterno Retorno o existencialismo parti da consciência de que a única forma de salvação do homem esta nessa terra no período em que ele vive, incitando o homem a partir em busca de se salvar.
      Mas como ia dizendo, estou doente! Não consigo resgatar em mim aquele amor à vida, aquela vontade de caminhar por aí, buscar praças tranquilas em que eu pudesse me sentar e ler um livro ou mesmo escrever. Não tenho mais aquela vontade de visitar bibliotecas e aquele modo de aproveitar o seu silêncio para estudar as obras da filosofia, costume meu tão peculiar e que foi um hábito quase diário durante certo tempo. Hoje, as obrigações da vida me tiram a paixão de viver, e a dificuldade que encontro em achar devotos, em conseguir pessoas que ao menos lêem o que escrevo, ou qualquer pessoa que se interesse pelos temas aqui proposto, faz-me atirar em futilidades que roubam cada vez mais meu espírito. A sustentação do meu ser se faz pelo que ele pode captar das horas e dos dias, e pelo menos no último ano ele tem estado doente, pois tudo o que ele resgatou foi uma tentativa desesperada de deixar as coisas em ordem para dar prosseguimento ao trabalho intelectual. Não mais buscar o conforto para a produção, produzir em meio a guerra, em meio a tornados, tempestades, maremotos, doença, esse é meu objetivo hoje, isso é o que concluo da minha vida.
       Tenho medo que tal empolgação seja apenas uma herança da influência de Nietzsche em minha vida. Se for, mais uma vez cairei no vácuo do obscuro, se não for, estarei brilhando como uma fênix. O tempo demonstrará com bastante precisão o que foi feito de mim. Não nasci para ficar tentando manter um padrão de vida ou mesmo certas aparências. Nasci para ser alguém capaz de eclodir nos céus a mais nova e certa percepção das coisas e do mundo. Busco a verdade, busco o sentido da vida...

Igan Hoffman

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