segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cemitérios: o que eles são!?

       Passo todos os dias de carro na rua que costeia a lateral de um cemitério aqui em Blumenau, e vejo as cruzes, os túmulos e até mesmo as lápides, hoje vi o nome de Lourival. É a primeira cidade em que o cemitério é assim tão a vista e tão perto, e ainda mais curiosamente, na frente da escola. Parece algo a La Lestat ou Annie Rice. Não tenho medo de cemitérios, e nem de almas penadas, mas estes dias tinha uma turma de adolescentes transviados sentados ali nas escadarias que pensei ser uma ofensa se alguém tivesse que driblá-los para chegar a ver o túmulo de algum defunto familiar. Não entendi ainda o porque do desconforto em mim, só sei que não me sinto bem com cemitérios tão aparentes. Seria melhor que o muro fosse mais alto, e que a entrada fosse mais segura. Sim, os mortos também precisam de segurança, tal é o nível de insanidade a que chega certos indivíduos, capazes de fazer horrores com defuntos, desde depredação à arrombamento de túmulos para saltear dentes de ouros, até crime de necrofilia. Quando eu era pequeno procurava ossada de cachorros mortos entre os perais das capoeiras dos escombros de Imbituba, para arrancar-lhes os caninos e fazer de colar, era como ter um troféu. Confesso que me sentia extremamente mal em fazer isso, e uma sensação muito estranha se apossava de mim. Fazia para ser aceito no grupo de pessoas que eu andava, para provar que tinha coragem. Não gosto de animais de estimação, mas sentia que aquele cachorro ainda estava ali, reinvidicando seu canino que eu acabara de arrancar, era algo muito esquisito! Agora imaginem essas pessoas que transam com defuntos! Doentes?!
 Sempre que passo por esse cemitério supracitado penso: será aqui que vou ser enterrado? Mas não tenho terra em cemitério algum, então onde serei enterrado? Será que estarei morando em qual cidade quando morrer? De nada vale essas perguntas porque não podem agora serem respondidas, e às vezes, podemos nem ser enterrados, basta morrer em um acidente aéreo onde os corpos não são encontrados, ou em uma outra forma de desastre; ou mesmo ser sequestrado e abandonado onde ninguém possa encontrar. Tudo isso passa por minha cabeça quando passo em frente daquele cemitério, e isto é diário. Cidade estranha esta! Costume esquisito! Em toda civilização antiga que conhecemos os corpos ganhavam certo cuidado especial e eram guardados em locais sagrados. Como fomos evoluir para enterrar os corpos na beira da estrada com os túmulos estremamente evidentes? Há algo de alemão nisso? Soa nazifacista não? Não quero fazer analogias absurdas, nem mesmo recriminar qualquer povo de qualquer cidade, mas que é estranho é. Não devem renegar seu passado de sangue, dor e sofrimento. Por isso, detesto que tenham cemitérios assim aparente. Por isso certas famílias enterram seus entes no quintal de suas casas. É uma forma de assegurar o respeito pelos que morreram. Mas tudo bem, quem morreu, morreu, o que resta? Um amontoado de ossos velhos e cabelos, depois só os cabelos, depois só o pó, e ao pó voltamos.

Igan Hoffman

4 comentários:

  1. Creio que um cemitério em frente a um escola pode servir caso algum estudante seja atropelado. É só jogar por cima do muro.
    Brincadeira.
    É realmente um tanto complicado quando nos damos conta de que um lugar destes será nossa casa eterna, pelo menos de nosso corpo.
    Nos sentimos inúteis frente a finitude humana, frente ao inevitável, frente ao momentos em que tudo vira problema e tudo se resolve.
    belas palavras, velho.
    hasta luego

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  2. KKKKK....me afinei com a história do estudante atropelado

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  3. Muito bom o texto! Achei bem diferente e interessante!
    Mas acho que não deveríamos importarmo-nos tanto com nossos corpos em decomposição... Afinal, para que servirão eles senão para adubar a terra?
    Acho bonitos aqueles rituais que eram praticados na Grécia Antiga, em que os corpos eram queimados em uma fogueira astronômica... De uma forma um tanto estranha, pareciam mostrar mais respeito.
    Aquele abraço, meu caro!
    http://arfh-arfh.blogspot.com
    http://segunda-dose.blogspot.com

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  4. Concordo com o Kelvim, realmente os corpos ganhavam mais respeito! Tema pertinente, às vezes esquecemos de refletir sobre estes assuntos. Muito bom Igan.

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