sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Brasil Brasileiro

Brasil! Minha pátria, a escolha que não fiz! Brasil, carnaval o ano inteiro, na política, na educação, na saúde! Brasil, não me sinto brasileiro! Tenho todas as características do estrangeiro. Não me reconheço nas ruas, não me entendo com as pessoas. "People are strange, whem you are strager"¹, acostumei-me a tua língua, a língua brasileira. Conheci tuas palavras na boca dos teus escritores, aqueles que abrigaram em teu seio, escritores do século passado e retrasado, que se alimentaram dos escritores de fora, como acabei também fazendo depois. Admiro teus constrastes tão intensos, tua variedade tão rica, tua malandragem. Oh Brasil, mas és tão bandido, tão arredio aos interesses mais sérios. Pátria que não é mãe, Pátria cruel que abandona o filho na rua, que o vê em desespero e ainda ri um riso nefasto. Pátria dos filhos sórdidos que até hoje mamam em teu seio, deixando a nós aqui embaixo o chorar angustiante. Morar no Brasil é ser solitário, é não ser  ouvido, é conhecer as madrugadas instáveis, é ouvir o tilintar da chuva no parapeito da sacada e não poder fazer nada, e não poder sequer construir uma vida de glória, uma vida destinada ao trabalho culto, porque tudo hoje é fruto de uma frieza tecnológica, tudo hoje é só produção industrial, é só arrecadação, é só conveniente para os detentores do "poder". "Welcome, to the machine"², as dores do sistema que admiro e odeio, o capitalismo. Mas não prefiro outro, não vale a pena o risco. Brasil, está tentando crescer e para tal ignorando seus defeitos, mentindo para o exterior sobre a inculta gente que cresce à margem, a mesma inculta gente que mancha as folhas do jornal diário com sangue e dor e que é inacessível porque assim fizeste. Este não é o Brasil brasileiro! Brasil, passe a valorizar a tua cultura, não estou ressentido, estou puto, porque não escolhi nascer aqui, não tenho aptidão para mudar, e vou morrer desconhecido. Não que não tenha me esforçado, mas no Brasil, é tão difícil em meio ao turbilhão desatinado que nos atinge todo dia e aos dragões que temos que matar. Brasil, trânsito horrível! Brasil, procure ao menos ter direito a ser reconhecido pelo que és. Para que tanto cinismo!? Brasil, quando vamos ter uma École Normale Supérieure ou algo semelhante? Brasil, faça com que eu pare de beber e com que eu pare de me matar a cada dia aos bocados. Brasil, atente ao menos então para o que vos digo: cultura é a salvação!

Citações:
¹ Jim Morrison - in People are Strange
² Pink Floyd - in Welcome to the Machine.

PS.: aos meus leitores, perdoe-me o ruim texto fruto de sei lá que sentimento me atingiu em cheio esta madrugada no meio de uma tragada e outra. Senti-me estranho escrevendo este texto, confesso! Escrevi-o em apenas dez minutos. Não era eu, será um outro? Que eu seja perdoado!
Se alguém citar Ary Barroso no comentário...!

Igan Hoffman

3 comentários:

  1. Gostei bastante do texto.
    Concordo com as palavras bem colocadas.
    Estamos crescendo? Sim. Contudo, a passos muito curtos...
    Estamos longe de sermos toda essa potência que se noticia. Muito longe.
    Muito desvio de dinheiro público, saúde precária, miséria, etc. Enfim, ainda temos muito a evoluir. Quase um abismo...
    Aquele abraço!
    www.segundadose.com

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  2. Este texto me transportou ..para um banco de uma praça com um cigarro em uma mão e a garrafa na outra ...quantas vezes pensei nisso ,já me torturei demais odiando a minha pátria ...Belo texto.Bjo!!Justine

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  3. Quem não se importa com lixo jogado nas ruas, com a corrupção política e policial, com o ensino público deficiente, com a calamidade que existe nos hospitais públicos? Para mim, tudo isso tem uma única raiz: ausência de uma educação de base forte e contínua mas todo lugar tem seus pontos positivos e negativos.Nós, brasileiros, maximizamos os negativos.
    Ser brasileiro é ser povo sofrido que todos os dias batalha bravamente, sempre seguindo em frente com fé e humildade. Possuímos a magia de unir todas as raças e crenças, somos hospitaleiros.Por que não se orgulhar de ser um país que faz piada da própria desgraça?
    Apesar do Gabriel Chalita perder para o Tiririca em SP, ainda amo o meu país e nele permanecerei.
    Beijos...sua fã(rs)

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