sábado, 5 de fevereiro de 2011

Encontro Inusitado!

      Eram sete horas da manhã. Ele já não tinha mais o que fazer, passara a noite em claro, leu tudo o que podia, escreveu muito, bebeu muito café também, fumou um maço de cigarros, e ainda não obtivera o sossego que o permitisse dormir. Pegou o Diskman e saiu caprichosamente do apartamento ouvindo aquela sonata de Mendelsohn, sempre inspiradora. Andava nas ruas e as pessoas não estavam ali, não havia os autos e nem mesmo as crianças que começavam a procurar por suas escolas. Ele caminhava ermo em si mesmo, e experimentava uma sensação como nunca antes havia experimentado. Quem mais estaria aquela hora no mundo ouvindo Mendelssohn enquanto caminhava na rua? Sim, ele era diferente! Lembrou-se de uma vez que sairia da biblioteca universitária depois de pelo menos seis horas initenruptas estudando um livro de filosofia, em que um amigo tentou chamá-lo para conversar e as únicas coisas que ele disse foi "desculpe, cara, estou desde as 13h na biblioteca estudando, não ouvi nada do que você disse", o amigo um outro estudioso não tão assíduo como ele disse "vai lá, eu entendo como é...". Ele ria sozinho na rua lembrando desse episódio, um riso funesto, mas verdadeiro em sua dimensão histórica. E continuava caminhando como se ninguém mais existisse, como se fosse o único naquela rua, pelo menos era o único talvez a ouvir Mendelssohn naquele momento caminhando. Ele não pensava que estava caminhando, era um transeunte passando sem rumo. Não sentia qualquer vontade de retornar, não sentia qualquer medo de se afastar, talvez até mesmo de se afastar para sempre. Mas no íntimo sabia que não teria esse ímpeto, que seria limitado, que andaria por um tempo e de repente simplesmente por qualquer outro motivo voltaria. Uma ambulância passa com muita velocidade, minutos depois, passa também o rabecão. Um cachorro cruza a sua frente, ele parece nem ter notado, nunca gostou de animais de estimação. Segue em sua loucura, ouvindo Mendelssohn sem pensar em mais nada, sem pensar em política, sem pensar no dinheiro, sem pensar nas desgraças da vida, apenas recordando alguns momentos do passado, momentos que ele foi quem ele queria ser. Depois de atravessar mais três quarteirões a pé, chegou misteriosamente ao seu acidente, e então passou a entender porque um dia havia quase que por acaso lido O Livro dos Espíritos do Allan Kardec. Olhou em volta e começou a enchergar as coisas como espírito, ascendeu rápido já que não tinha apegos nessa terra. Foi para o lugar onde habitam os espíritos leves, ouvindo Mendelssohn e quase alcançando o estado de nirvana. Era, sobretudo, um espírito bom, apesar de todos os erros em vida, apesar de toda a dor que causou, apesar de toda a indolência para consigo, deixado o corpo sentiu como era de uma leveza budista! Primeira vez que foi tão longe...

2 comentários:

  1. Gostei do conto, sobretudo do final!
    Grande abraço!
    www.segundadose.com

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  2. Cada dia que passa fico mais surpresa com você ...adorei !!!BJos..Justine

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