sábado, 23 de abril de 2011

A Velhice

Hoje fui visitar meus avós maternos (nona e nono). Confesso que aprendi algumas lições sobre a velhice e também sobre a doença, mais do que pude aproveitar durante todo o curso na faculdade. Essa visita acabou por resgatar um pouco do  próprio "eu" que estava perdido, em algum lugar do passado. Os meus avós além de muito religiosos tiveram uma vida muito dura, criaram dez filhos em meio as dificuldades da época, e ainda por cima morando longe de qualquer centro urbano por menor que fosse. A casa deles é a penúltima na estrada que mais parece uma passagem para o carro de boi, as outras casas ficam a kilometros de distância. Fico imaginando ao olhar para aqueles morros cheios de mato e bugios, como era cuidar dos filhos, manter as lavouras, os animais de criação, a casa, a saúde das crianças e tudo o mais que é preciso para se viver em um lugar como o deles. Muito menos do que precisamos para viver na cidade por exemplo. Apesar de toda a dificuldade criaram muito bem os dez filhos, e hoje ainda não se renderam aos confortos da vida moderna. Sua casa ainda é rústica, não possuem telefone, muito menos internet. O banheiro e chuveiro estão instalados na parte externa da casa. Quem disse que tomar banho e sair na rua faz mal para saúde? Meus avós estão com 83 anos de idade, vivendo com pouco, comendo muita polenta, queijo, salame, verduras e frutas que extraem da própria terra que cultivam, das vacas e porcos que criam.
Espantei-me com a lucidez de minha avó, é possível conversar com ela normalmente. Ela tem uma memória muito boa, e surpreendentemente conhece assuntos da vida moderna. Ainda é uma leitora assídua! Está doente é certo, mas sua doença é apenas física. Não digo que ela não sofra com a doença, mas parece saber tão bem driblar isso. Senti-me pequenino ao lado dela, eu a respeito muito. Meu avô é saúde pura, vigoroso, lúcido, atento! Ainda conserva os braços fortes para mexer a polenta no tacho sobre o fogão à lenha. Quanto aprendizado!
Bem, depois desse resgate do meu "eu", ter ido novamente até as origens, ter visto o que passaram meus avós e minha mãe no enfrentamento das condições rudes, sinto-me renovado para continuar a levar minha vida, e mais ainda por estar pisando sobre o caminho justo. De qualquer modo, é preciso concluir, a velhice me surpreende e comove mais que a juventude.

2 comentários:

  1. Sempre aprendemos com as pessoas mais velhas. Por isso é tão importante estar perto delas..
    Aquele abraço!
    www.segundadose.com

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  2. Por que o texto que me chamou de imediato foi esse? Como disse Marina Colassanti no conto "Um amor sem palavras", o amor existe no silencio... e é isso que precisamos aprender com os idosos... a silenciar...

    adorei!

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