domingo, 12 de junho de 2011

Mortos - Vivos!

       A vida em sua plena fragilidade! Quase todos os dias eu me deparo com a nossa insuficiência e mortalidade. Mesmo assim, ainda consigo manter um posicionamento contra tipos nazistas de idéias mortuárias como a eutanásia e a ortotanasia. No entanto, reconheço também que há momentos em que realmente fica difícil dizer até que ponto a ciência está contribuindo para a vida. Há pacientes que por estarem em estado cadavérico, horrivelmente dilacerados, odor putrido, dores as mais severas, manten-se "vivos" graças ao aparato médico, mas que não tem quaisquer perspectivas de restabelecerem seu quadro, retornarem a suas atividades, recuperarem a dignidade, sabendo-se de antemão o prognóstico negativo. Nesses casos, e somente nesses casos eu seria a favor da ortotanasia, pois entendo que a ciência, erm situações assim, estaria apenas contribuindo para o aumento do sofrimento. Toda ciência acaba por ser deste modo: possui um lado positivo e um lado negativo, e não é diferente com a medicina.
       O problema, já debatido várias vezes, sobre o emprego de um meio que permita o paciente morrer de forma mais natural quando a vida já é incompatível com seu estado de saúde, está em que nem sempre esse limite será respeitado, porque dentro do meio profissional, é sabido de operadores da saúde que se acham acima de Deus, podendo realmente definir quem vai e quem não vai sobreviver. Sei que a crítica é dura, mas quando falamos de médicos e enfermeiros, estamos falando de seres humanos, dotados de personalidade e caráter próprio. São pessoas tomando decisões, agindo, sobre o risco de uma vida alheia progredir ou não. Claro, toda prática científica é regida por um sistema ético. Cada profissional tem o seu código de ética. Mas da mesma forma que na sociedade temos os códigos, como o código penal, e encontramos indivíduos que furtam, matam, estupram; nas outras profissões também, o código não impede as condutas ilícitas, apenas coloca os "se". A solução ainda continua sendo um prolongamento do sofrimento para lá de humano, enquanto não temos um sistema seguro que nos permita identificar, selecionar e agir de forma ética e consciente, quando nos deparamos com estes tipos de pacientes, verdadeiros mortos-vivos. Muitas vezes as cenas que "vislumbramos" na prática rotineira poderá parecer algo horrendo a um oficial dos campos de concentração nazista, e até mesmo a um judeu prisioneiro em um destes campos...Mas o fato é que não estamos prontos para lhe dar com a responsabilidade de decisões que ainda não estão claras em relação a suas consequências, apesar de que alguns pensam o contrário.

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