sábado, 17 de setembro de 2011

Salomão/Satre e nossa relação com o mundo

            Bem, estou um tempo sem escrever, então vou dar uma síntese de uma das idéias que tem me acompanhado nestes últimos dias:
Nada chateia mais a sociedade moderna que uma pessoa desprovida do sentimento de posse. Quando falamos aos outros que nada queremos ter, que nada temos, e que a idéia de posse é uma abstração hipostasiada, o que verificamos é uma sensação de repúdio por parte das pessoas, desde os cristãos até os que se consideram ateus. E nada mais cristão do que nada ter, além de si mesmo. Também nada mais autêntico do que o reconhecimento do que se é: mera consciência relacionando-se com a matéria, em marcha para não se sabe onde (a terra prometida, o Nada?).
Essa explosão humana que vem ao mundo não se sabe quando, mas que se reconhece como “eu” a partir dos dois ou três anos de idade, ainda que sem saber direito o que isso possa ser, nada poder ter além de sua representação enquanto consciência. Um filho não pertence ao pai, ele pode ser, a qualquer instante de forma inesperada, tirado dele por uma doença, um seqüestro, um acidente, etc. Esse pai vai sofrer pelo filho que perdeu, o filho que nunca foi seu. O que há entre um pai e um filho é uma relação de paternidade, uma relação de convívio, uma relação de proximidade, consangüinidade, criação, e nada disso pode ser substituído pela idéia de posse, nada disso permiti tornar o filho como seu. Ele sempre será filho desse pai, mesmo que não viva mais nesse mundo, mas nunca será no sentido de propriedade. As pessoas sofrem na medida que dão as coisas  e aos outros seres noções que não são próprias das coisas, tampouco dos seres. Não é próprio de uma pessoa ser de alguém, enquanto consciência que somos, estamos livres. O Ser humano vive em estado de coisificação, quer se transformar no que tem – perde a noção de liberdade e de como sua consciência é ilimitada -, para só no fim, já próximo da morte, quando tem a oportunidade de viver este processo, é que se identifica com o seu verdadeiro “eu”, com o “eu consciência", habitante deste mundo mas não pertencente a mesma matéria dele, e se vê desprotegido, percebe-se como algo que deixou a todo instante a vida escapar, e que tudo que julgava ter agora passará a ser de outrem. As vezes, em um ato desesperado de má-fé, ainda coloca essa esperança do ter em seus filhos, dizendo conformado que agitou-se tanto por esta terra para que deixasse tudo para eles.
Nesta perspectiva, somos como o terceiro Rei de Israel, Salomão, que tinha uma consciência muito viva da morte, e da relação do homem com este mundo “O SENHOR DEU AOS SERES HUMANOS INTELIGÊNCIA E CONSCIÊNCIA; NINGUÉM PODE SE ESCONDER DE SI MESMO”. Já Sartre diria assim “A gente se cura de uma neurose, mas não se livra de si mesmo”.

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