sábado, 19 de março de 2011

Husserl, Fenomenologia, Evolucionismo

"Toda consciência é consciência de alguma coisa", essa fórmula adotada por Husserl (1859 - 1938), põe em xeque muito do que se pensou até a época no campo do pensamento e da posição do homem no mundo. Nossa consciência então se relaciona com o mundo externo através da consciência que dele temos. Sendo assim, é uma relação de consciência com consciência para o mundo externo. Então somos lançados ao mundo como Sartre dizia, mas somos lançados primeiramente em nossa consciência. Nesse sentido Sartre aplicou a fórmula de que "o homem pode se curar de uma neurose, mas nunca de si mesmo", aqui ele estava certo. O mundo externo existe e é independente de nossa consciência, mas em verdade, passa a existir efetivamente enquanto está para nós, porque provém de nossa consciência a noção de existência e se empregamos aos objetos, é que temos consciência de sua existência. Então existem, enquanto existem para nós. Fazemos então representações das coisas em nossa mente, como quando estamos diante de um objeto, podemos ver duas ou três de suas faces, as demais faces são intuídas. Por exemplo, se você tem como eu uma caneca com café a sua frente, você não vê a face posterior dela, se não estiver olhando de cima, não verá também suas faces internas. Como pode saber que nesse momento elas estão a existir, e que por algum motivo,  a matéria não flertou nesse momento e passou a não existir? Por intuição apenas. Há outros casos de representação, estes assinalados por Husserl, por estarem no campo da psicologia, campo em que o pensador atuou. Husserl nos aponta a representação que fazemos, quando por exemplo, vejo uma bandeira, que é apenas um pedaço de pano pintado e, através dela, eu viso outra coisa, viso um determinado país. Há aí certamente a presença de uma atividade da consciência, essa característica de lidar com o signo e seu significado acaba por tornar muitas idéias possíveis. É só pensarmos que a escrita é feita de signos. A isto Husserl chama de intencionalidade, ou seja, existe intencionalidade sempre que através de um dado, visamos algo não dado, sempre que certa presença exprimir uma ausência.
       O caso acima vem apenas elucidar uma das idéias já transmitidas por Heidegger, sucessor de Husserl no pensamento fenomenológico, de que para se descobrir como se processa nossos pensamentos, como é formada nossa mente, como expressamos nosso conteúdo mental, deve-se partir de análises internas. O estranho é que hoje cientistas ainda tentam solucionar estes problemas através do estudo aprofundado das estruturas cerebrais, matérias, que são por nós representadas na mente. Mente e cérebro são coisas distintas. Mente não é matéria, cérebro é. Para se chegar a Mente não se pode partir da matéria. Mas sabemos que existe alguma ligação, pois como explicaríamos a diferença na estrutura mental de alguém que sofre algum dano cerebral, ou mesmo que nasce com alguma anomalia neste órgão? De qualquer modo, não poderíamos afirmar que a Mente seria formada exclusivamente no cérebro, porque a Mente não pode ser reduzida à matéria, colocada numa lâmina de microscópio e estudada. Por isso no Direito se deve tomar cuidado ao decidir sobre a vida de um feto ou mesmo de um anencéfalo. A Mente é assunto da filosofia e psicologia, a ciência que cuida estritamente da matéria nada tem haver com isso. Por isso é bom duvidarmos de toda ciência que prevê leis absolutas, porque podem incorrer sempre em erro. Como, por exemplo, a questão do evolucionismo. Como imaginar que em um determinado momento da evolução do homem, a Mente passa a exercer papel determinante em seu modo de vida? De onde provém esse avançar do cérebro humano capaz de produzir a Mente? Será mesmo possível? Ou a Mente está mais relacionada com a Alma, o suprassensível, o intangível? Nossa mente pode desenvolver novas formas de se relacionar com o mundo exterior, fora os processos estudados pela psicologia e fenomenologia, e continuar evoluindo, nosso cérebro deverá evoluir com a mente? Os processos mentais estudados pelos fenomenologistas como Husserl e Heidegger são estruturas imagináveis, intuídas da forma como a mente processa os pensamentos e como passa a conhecer o mundo que está a sua volta. Mas, também podemos como Wittgestein reduzir tudo isso a mera questão de linguagem e jogo de conceitos, fruto já de uma mente que recebe uma tradição humana de idéias. Existem sim, noções a priori como Kant propunha e depois Descartes, pois já nascemos com alguns mecanismos presentes, como a procura por alimento (instintiva), a idéia de que há um ser maior (todas as civilizações acabam por buscar uma certa divindade), a idéia de que é preciso certos controles para vivermos em sociedade, a idéia de número, sabemos já de antemão que dois é diferente de um, mesmo que não utilizássemos a linguagem "dois" e "um", que fosse outra coisa, perceberíamos a diferença, ou por uma questão de percepção ou sensibilidade, ambas vinculadas e participes do mecanismo mental. Associado a isto podemos aceitar a idéia de tábula rasa de Locke, bem como o empirismo de Hume, não tão rasa, com algumas idéias já embutidas, acrescentando o que aprendemos pela experiência. Pensando em tudo isso, na complexidade de nossas mentes, fica a questão, podemos realmente aceitar certa ciência como o evolucionismo, ou tem mesmo um cheiro de charlatanismo por trás disso tudo?

3 comentários:

  1. (estou tentando comentar esse seu texto há horas, mas estou com problemas no mouse e a página ou sobe de uma vez ou desce de uma vez... tá difícil!)

    que análise filosófica profunda! legal...

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  2. lembrei da indústria cultural que polui nossa mente

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  3. Depois de ler teu texto decidi fazer vestibular pra Filosofia...os cursos de Matemática, Contábeis e metade do de Economia não foram suficientes pra entender tamanhã viagem.
    Você é meio doidinho mas é o cara rs
    Beijos!

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