Paradoxalmente, o conceito de Liberdade só pode estar completo perante o indivíduo que à experiencia quando há o compromisso. Comprometer-se a ser livre, aproxima-se da máxima de Sartre de que "o homem está condenado a ser livre". "Ser livre" talvez seja um dos propósitos mais negligenciados pela sociedade. Para ser livre de verdade, é necessário estar corpo e alma envolvidos na autenticidade do Ser. Não é na alteridade que a Liberdade é confundida e negligenciada, e sim na consciência pessoal e nos impactos que o subconsciente opera nela.
Por anos a fio, somo domesticados a pensar e agir como as pessoas desejam e não como realmente somos, ou como gostaríamos de ser. Não obstante, é mais cômodo ao nosso sistema límbico ignorar esse propósito e adotar a atitude mais "fácil" e relaxada deixando os outros ditarem o nosso destino, as nossas escolhas, os nossos desejos mais sinceros. Com efeito, nossa natural formação na infância, a qual buscamos nos compreender no outro, replicamos esse comportamento o resto da vida, sem nunca termos chegado à idade adulta. Então, buscamos nas sensações que causamos ao outro a nossa representação como que num espelho, como uma criança que provoca os pais para descobrir quais são os seus limites e sua capacidade de provocação. Embutimos muito cedo em nossas consciências a noção de que somos frutos do meio em que vivemos, e vamos desenvolvendo as ferramentas necessárias a cumprir os papéis sociais, sem perceber que estamos apenas perdendo nossa liberdade.
Entender todo esse processo de desenvolvimento e como passamos a operar a vida a partir daí, nem sempre é uma tarefa simples. Estamos tão envoltos na "estória" que criamos para nós. Estória mesmo, com "e" e sem "h", pois que é nossa ficção, fatos que damos interpretações imaginárias. Pelo menos existem algumas técnicas que podem auxiliar nessa tarefa, como a meditação. Ser livre é descobrir-se! Ser livre é ainda libertar-se dos estereótipos sociais e ser quem você quer ser, sem se importar com a opinião alheia, dentro de um propósito ético tanto em relação a si mesmo quanto em relação à coletividade. Pois, por mais que esse possa parecer uma premissa egoísta, não é sem propósito dizer que sem o "outro" não existe a noção do "eu". Mas importante destacar que aquilo que o outro pensa a meu respeito não é o que eu sou, e sim o que ele pensa que eu sou, e por isso não deve ser acreditado por nós. Dessa forma, a ação livre deve vir de dentro para fora e não o contrário, mas sem deixar de voltar seus olhos para fora, não para julgar, mas para poder buscar sua conexão com o Mundo. Quando você sente no peito que poderia estar fazendo determinada coisa, mas passa a vida inteira a representar um outro papel o qual o faz essencialmente para manter as aparências sociais, ou para agradar, impactar, influenciar, provocar, ou se insinuar a um outro que não você, está faltando com sua autenticidade, replicando àquele comportamento aprendido na infância, e colaborando para aumentar as grades que o aprisionarão nessa persona que não é você.
Assinala-se que apenas os sentidos podem experimentar o presente. Por isso a emoção é a fonte mais importante dessa descoberta pessoal em busca da Liberdade. A Razão é que apoia a Emoção, e não o contrário. Se quisermos viver a vida real, sendo pessoas reais, temos que passar a prestar mais atenção aos nossos sentidos e silenciar um pouco o pensamento. Se associarmos isso a ideia central das perguntas fundamentais da filosofia, percebemos que a Razão apesar de inicialmente se mostrar promissora, acaba por fim nos deixando órfãos. Novamente, nos agarramos nos sentidos como forma de compreensão de nós mesmos e do mundo, assim como os pré-socráticos que mais pensavam intuitivamente, ou seja, pensavam com os sentidos e não apenas com a Razão. Nietzsche já havia nos advertido a respeito de Sócrates (quando falta vida, sobra racionalidade), pois que a existência poderá ser experienciada por nós somente por instinto.
No fim, tem-se ainda a negação. O medo de não conseguir realizar o propósito descoberto, faz com que negamos o verdadeiro propósito, em um mecanismo mental compensatório e/ou evitante. São os braços, as ramificações, os tentáculos de nossa dor central. Então, os limites são estabelecidos mentalmente através da "estória" que criamos e provocamos em nós mesmos. Começamos muito cedo a construir nosso "castelo" o qual acreditamos ser apto a nos proteger dos olhares alheios. Queremos que os outros nos vejam como projetamos. Acreditamos muitas vezes sermos parte desse constructo. No íntimo, sabemos que não! Mas não está tudo perdido, porque, recebemos naturalmente a faculdade de estabelecer a mudança a qualquer tempo, a qualquer hora. Não estamos fisicamente presos a padrões, comportamentos, profissão, amigos, lugares, mas tão somente mentalmente. Dessa forma, impossível não voltarmos a Sartre, e lembrarmos de sua máxima de que o meio não determina como pensavam os marxistas, desculpando-se pelas infelicidades sociais, e sim, apenas condiciona. A realidade nem sempre é o que queremos que ela seja, e na maioria das vezes é algo duro de se lhe dar, mas o trunfo sempre vem depois que resolvemos enfrentá-la. É nos nossos corações que a batalha deve ser travada!
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