segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sobre os Mistérios Insondáveis e Passíveis de Descoberta que Influenciam o Viver Humano

O ponto entre a vida e a morte é uma linha tênue. Uma linha tão tênue que chega mesmo a muitas vezes confundir, até mesmo os mais atentos. Em um momento estamos vivos, e, no outro, paramos de respirar, nosso coração já não encontra mais o impulso vital que o faz bombear o sangue para as demais regiões do corpo, inclusive para o próprio coração. Dizem que a maior certeza que poderemos ter, é a de que todos iremos um dia morrer. Eu não sou um crente nas ciências, mas sou obrigado a ser conivente com o posicionamento de que um dia ainda poderemos descobrir um modo de manter as pessoas vivas, não digo eternamente, mas por um tempo muito maior, algo que reduza nosso envelhecimento e o perecimento do corpo, bem como o aparecimento das doenças. Agora, quando a descobrir o que há depois da morte, quanto a isso não resta dúvidas:  é, na verdade, uma das poucas certezas que podemos ter, enquanto seres humanos habitantes deste planeta que chamamos de Terra, a certeza de que nada sabemos nem nunca saberemos sobre o que há depois da morte. É possível especular, é possível acreditar, é possível pensar, mas saber mesmo, de forma concreta, isto não nos é possível. Então, o homem vive sobre esta certeza irrefutável: jamais um homem saberá o que existe depois da morte! Este é o primeiro princípio para a criação de uma moral: dentro desta perspectiva, é possível repensar nas condutas humanas, no peso de nossas escolhas e atitudes, na habilidade com que cruzamos esta vida. O fato é que a maioria das pessoas prefere ignorar essa verdade, e vive buscando ilusões que tapem ao menos parcialmente o grande vazio que a falta de uma certeza, de um conhecimento sobre o porvir, com respeito ao além-morte, deixou. É duro, mas não é desumano, muito pelo contrário, existe sim um humanismo em reconhecer nossa mortalidade e mais ainda, em reconhecer nossa incapacidade de sondar estes limites.

Uma segunda certeza irrefutável é a de que também não poderemos desvendar qual o sentido desta vida. Outra situação possível de criações de moral, pois já que não há nada previamente determinado, já que não temos onde buscar uma orientação que seja cem por cento verdadeira, então, neste caso, poderemos criar uma orientação que nos faça crescer em, como diria Nietzsche, "altivez de espírito". Mas mesmo assim ainda é confuso, porque ser altivo não quer dizer ser grande. Neste aspecto, um camponês por exemplo, que cuida de sua família, que exerce o árduo trabalho do campo e se regosija com isso, sua resignação pode ser uma forma de altivez, ou não. Não temos o sentido da vida, tudo é de um niilismo absurdo. Viver com o sentido que aplicamos, com as nossas verdades, com o que acreditamos ser possível, este é o único sentido, porque nada mais encontraremos além disso.

Por fim, nossa relação com o infinito, com o insondável, com o que há para além do espaço vigiado por telescópios, para o que há até o fim, se há um fim, se pode haver vida em outas galáxias distantes, vida como a nossa, mais desenvolvida ou menos desenvolvida, ainda consiste um mistério para o Ser Humano. Ainda que este mistério pode chegar a ter parcelas de descoberta no decorrer do desenvolvimento humano, caso por exemplo, topemos com algum ser vindo de outra galáxia, ou algum estudo em outro planeta nos revele algo que ainda não sabemos a respeito da vida extraterrestre, ou mesmo da origem do sistema solar, espaço, galáxias, e do que há em todo o Universo, ou melhor, sobre o que é isso, o Universo. Por ora, nosso conhecimento é limitante, mas poderá vir um dia em que novas descobertas colocarão o Ser Humano a par de novas situações e sua relação com o Universo  poderá vir a sofrer algumas alterações.

Bem, é desanimador eu sei, mas o que apontei acima acaba por ser, sinteticamente, o resultado de minhas investigações filosóficas até agora. Não acredito que dentro daqueles aspectos supracitados, poderemos avançar mais, as perguntas fundamentais continuam e talvez sempre continuarão. Resta ao homem acreditar ou não. Deus então é uma questão de fé, e a fé não pode ser explicada cientificamente, salvo pelo fato de acabar também por muitas vezes ser uma necessidade humana frente ao mistério, ao desconhecido. Mas muitas vezes ela é uma experiência tal, que independe deste temor do desconhecido, tornado-se uma certeza sem necessidade de comprovação. A isto poderemos dar o nome que quizermos, hoje chamamos de fé. Poderemos se quizermos chamarmos também de má-fé.

sábado, 25 de junho de 2011

Sartre e o seu Otimismo

      Sartre tinha a mesma concepção que eu consegui alcançar a partir das minhas reflexões pessoais, com a estrita diferença que o francês utilizava-se de uma nomenclatura apreendida dos alemães fenomenologistas. Tanto para o autor de A Náusea, quando para mim, essa vida não pode ser explicada e carece de lógica. Ficamos a mercê das especulações que não nos dizem nada com a capacidade de certeza, pois nada podem ou poderão provar. Neste caso, podemos atribuir tanto ao fenômeno da existência quanto da mente a idéia de "absurdo" - utilizada por Sartre -, simplesmente pelo fato de carecerem de explicação plausível. É desesperador, a princípio; no entanto, em um plano mais profundo permite ao homem se libertar e reconhecer uma moral que lhe outorga o direito de conduzir sua vida como bem tencionar, dentro do corpo das possibilidades e responsabilidades. Neste sentido, um otimismo acaba sendo possível, no que tange a idéia de que "tudo é possível" e na medida em que cada um torna-se responsável pelo que é, pois ninguém poderá escolher pelo outro, ainda que possa influenciá-lo em suas decisões.

Autenticidade em Sartre

       Hoje, quase por acaso, acabei lendo sobre a autenticidade em Sartre e aprendendo um pouco mais sobre essa questão de, por exemplo, ser fiel a si mesmo. Não deve-se tentar transformar o entorno para propiciar as condições necessárias a realização do nosso projeto, ma sim, se integrar as condições e descobrir por meio delas e nelas os meios de realização da nossa vontade. Destarte, meu desejo ganha um novo sentido, e nesta nova ética, a vida já começa a ser possível novamente.
       Esta descoberta me atingiu de chofre, em meio a uma noite passada em claro, sem ânimo nem coragem para dormir. Quando o dia estava quase amanhecendo, recolhi-me a sacada com um dos livros de Sartre e meu diário. Quando menos esperava, na página com o marcador, que eu iria ler naquela hora, lá estava a resposta para minha aflição. Jamais em outro momento eu leria aquela página e teria alcançado o mesmo nível de interpretação como ali, naquele momento em que eu estava num grau de aflição bem similar ao do autor. Sartre, enquanto soldado do serviço de metereologia na Segunda Guerra Mundial, também estava sofrendo com o embate do seu desejo com as condições do momento. A Segunda Guerra veio afirmar mais uma vez que vivemos em um mundo de areia movediça, em que a segurança que muitas vezes sentimos, quando sentimos é ilusória.
       Lendo sobre sua vida e com base no que os biógrafos dizem a seu respeito, como Annie Cohen Solal, descubro que nosso projeto de escritor esteve sobre o risco de desviar o seu caminho muitas vezes. Por exemplo, antes da guerra, enquanto professor de Liceu, para manter o seu projeto, precisava se dedicar ao trabalho até mesmo 16 horas por dia. Durante a guerra não foi muito diferente, apesar das dúvidas que ela colocava, da insegurança, ele resolve mesmo assim pensar que a guerra a qual forçosamente fazia parte como soldado metereologista era uma farsa. Isto permitiu que ele continuasse dedicado ao seu projeto, escrevendo, lendo muito e se especializando cada vez mais. Este tipo de disciplina e determinação é o que pode ter feito toda a diferença. Como Sartre diria, "o importante não é o que fazem de nós, mas aquilo que fazemos do que fazem de nós".

terça-feira, 14 de junho de 2011

Loucura e Morte, Ironia e Humor.

Hoje enquanto estava escrevendo sobre alguns assuntos particulares, acabei por trazer a tona a aplicação da Ironia e do Humor pelo homem, chegando a seguinte conclusão: o homem se utiliza do Humor e da Ironia como objetos de fuga diante de uma situação sem saída. Cheguei até aqui quando elaborava uma tese sobre a loucura um tanto foucaultiana. Estava descrevendo a loucura e a morte como desafio ao saber-médico, o que acaba por desposar o médico de sua soberania. Na loucura, o médico não prescreve o medicamento com o objetivo da cura, mas sim do controle. O louco não pode ser curado, posto que loucura não é doença, deve ser então controlado. A função dos hospícios é de ser verdadeiros centros de controle humano, não muito diferente talvez da escola, da indústria e das cadeias. A morte neste ponto corresponde sinonimicamente à loucura, posto que para o médico ela também funciona como um desafio ao seu saber. Salvo esta característica, todo o resto que se pode falar a respeito da morte e da loucura é mero absurdo, ou seja, não podemos falar sobre o que não temos os meios de conhecer. A excessão é com relação a estética. Dentro desta perspectiva podemos falar da Ironia e do Humor que sondam a morte e a loucura. Chego então ao tema que inicia este texto. Fica assim descrito a proveniência de uma sentença, que culminou nesta explicação. Ainda se poderia aqui, através deste esboço introdutório, divagar sobre a reação por exemplo da população brasileira, o humor e a ironia com que tratamos os assuntos que deveriam ser sérios, como a política, a saúde e a educação. É o que pode o povo diante de situações insolúveis.

domingo, 12 de junho de 2011

Mortos - Vivos!

       A vida em sua plena fragilidade! Quase todos os dias eu me deparo com a nossa insuficiência e mortalidade. Mesmo assim, ainda consigo manter um posicionamento contra tipos nazistas de idéias mortuárias como a eutanásia e a ortotanasia. No entanto, reconheço também que há momentos em que realmente fica difícil dizer até que ponto a ciência está contribuindo para a vida. Há pacientes que por estarem em estado cadavérico, horrivelmente dilacerados, odor putrido, dores as mais severas, manten-se "vivos" graças ao aparato médico, mas que não tem quaisquer perspectivas de restabelecerem seu quadro, retornarem a suas atividades, recuperarem a dignidade, sabendo-se de antemão o prognóstico negativo. Nesses casos, e somente nesses casos eu seria a favor da ortotanasia, pois entendo que a ciência, erm situações assim, estaria apenas contribuindo para o aumento do sofrimento. Toda ciência acaba por ser deste modo: possui um lado positivo e um lado negativo, e não é diferente com a medicina.
       O problema, já debatido várias vezes, sobre o emprego de um meio que permita o paciente morrer de forma mais natural quando a vida já é incompatível com seu estado de saúde, está em que nem sempre esse limite será respeitado, porque dentro do meio profissional, é sabido de operadores da saúde que se acham acima de Deus, podendo realmente definir quem vai e quem não vai sobreviver. Sei que a crítica é dura, mas quando falamos de médicos e enfermeiros, estamos falando de seres humanos, dotados de personalidade e caráter próprio. São pessoas tomando decisões, agindo, sobre o risco de uma vida alheia progredir ou não. Claro, toda prática científica é regida por um sistema ético. Cada profissional tem o seu código de ética. Mas da mesma forma que na sociedade temos os códigos, como o código penal, e encontramos indivíduos que furtam, matam, estupram; nas outras profissões também, o código não impede as condutas ilícitas, apenas coloca os "se". A solução ainda continua sendo um prolongamento do sofrimento para lá de humano, enquanto não temos um sistema seguro que nos permita identificar, selecionar e agir de forma ética e consciente, quando nos deparamos com estes tipos de pacientes, verdadeiros mortos-vivos. Muitas vezes as cenas que "vislumbramos" na prática rotineira poderá parecer algo horrendo a um oficial dos campos de concentração nazista, e até mesmo a um judeu prisioneiro em um destes campos...Mas o fato é que não estamos prontos para lhe dar com a responsabilidade de decisões que ainda não estão claras em relação a suas consequências, apesar de que alguns pensam o contrário.