domingo, 29 de janeiro de 2012

A Alteridade

       Muitas pessoas vivem infelizes mais por opção mesmo. É um absurdo o número de pessoas que não tentam sair de sua condição de infelicidade. Simplesmente não fazem nada, não aceitam ajuda e dissimulam um regozijo. Inventam desculpas, e colocam a culpa em "n" fatores, e mesmo quando descobrem serem elas mesmas culpadas ainda abusam do argumento de que se tiverem que sofrer vão sofrer. Isté é um cúmulo, uma maluquice, por quê, quem escolhe ser infeliz quando pode encontrar a felicidade? Com o tempo aprendi a detestar estas pessoas, pois lhes falta coragem, sentido e lógica. Fui então aprendendo também a evitar estas pessoas, pois acabam nos desencorajando também.
       Quando observo as pessoas, é certo que executo a análise com base nas minhas experiências, nas circunstâncias que me são possíveis, e reconheço que é uma análise ainda muito pobre. Mesmo assim, esse universo que observo só consegue  me dizer isso: não vale a pena! Pela minha idade e pelo modo como vivo, entendo que tenho muito mais para fazer e pensar em proporção ao desenvolvimento destes jovens de hoje. Isso ainda não é capaz de me constranger, pois entendo que a vida ainda é mais do que essa "decadence" que se apresenta a minha frente. Não, nada disso seria capaz de me paralisar. Posso, em certos momentos, sentir-me como se minhas palavras fossem roubadas. Mas quando, por exemplo, penso em Fernando Pessoa, que é um poeta com uma dimensão filosófica bastante dominante, e que não viveu nesse época, mas que sabia muito mais a respeito da vida e das relações do que qualquer um destes jovens ou mesmo mais do que eu poderia saber, não tenho como não idealizar a sociedade bem diversa daquilo que produzimos hoje. Por isso também, não abandono as filosofias, pois é um remédio contra o desespero. Às vezes, esse remédio, apresenta um efeito rebote, piora a doença, conduzindo-a até os limiares da loucura; outras vezes, alcança quase que a cura completa. Um remédio contra o tédio desta vida, com reações as mais variadas....
       Uma verdade impalatável é que as consciências alheias nos obervam e nos medem. Então é isso, cercados desses olhares, muitas vezes buscamos neles a medida certa daquilo que poderemos ser. Mas será que realmente esses olhares alheios sabem o que é melhor para eles, ou mesmo para nós? Não, obviamente, a história tem demonstrado vários exemplos disso. Então, não vale a pena viver para alimentar as perspectivas dos outros. Isso também não pode ser chamado de egoísmo, pois que não se está a ignorar a presença do outro, mas sim à transcender a experiência da imposição destes olhares. Quando dizem que o homem pode encontrar a felicidade em si mesmo, querem dizer que ele não precisa estar focado no que os outros esperam dele, mas naquilo que ele próprio espera de si, e isso acaba por se tornar muito mais fácil, quando se escapa da presença esmagadora dos olhares humanos. Sabe-se lá por quais lentes estão estas pessoas olhando o mundo...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Como Participei da Enchente de 2011

“Usando de bastante sinceridade, para mim pelo menos, esta enchente teve a vantagm de me proporcionar a realização de horas extras aumentando assim meus rendimentos, em um período em que normalmente eu estaria dormindo, além de que acabei por não perder a apresentação de um trabalho de faculdade, pois nem mesmo aula teve, ficando a apresentação para um outro dia passível de minha presença. Até agora, só foram vantagens para mim a partir do momento em que essa enchente foi anunciada...

O plantão está calmo, estou tranquilo e consegui dormir cerca de duas horas e trinta minutos. Dormi mais do que durmo muitas vezes quando estou em casa. Claro que me compadeço da situação alheia, os desabrigados, mas o que eu posso estar fazendo, de certo modo já estou. Enfrento esta situação com sinceridade.”

Escrevi o que vai aqui em cima durante a enchente de 2008, cuja qual me deixou de plantão no CTI. Realmente, não que eu não tivesse consciência do que estava ocorrendo lá fora, mas queria relatar as coisas a partir do que eu estava vivendo, e não do que sabia que estava acontecendo. Então, um acontecimento catastrófico destes teve para mim consequências meramente positivas. Certamente, outras pessoas também tiraram vantagem da situação e ainda irião tirar, por exemplo, os donos de supermercados aumentando os preços de água e produtos de limpeza. Não agi com maldade, fiz meu serviço na medida do que eu poderia ter feito, não fui um covarde. Não deixei de encarar a situação, mas enquanto Enfermeiro o melhor que eu poderia fazer era realmente estar ali no CTI, cuidando dos pacientes internados, organizando o serviço, atendendo as necessidades dos técnicos em Enfermagem, principalmente de sono, descontração, motivação, para que pudessem continuar prestando seus serviços mesmo diante da pressão das circunstâncias.

Eu tinha plena consciência também de que em breve tudo voltaria ao normal. As pessoas que eu realmente me importava, estavam em segurança, como minha filha por exemplo. Então, não adiantava nada eu agir em desespero, ficar nervoso, preocupado, etc. Depois eu iria raciocinar muito melhor se estivesse de cabeça fria e se não me deixasse convulsionar pela tensão do momento. Destarte, procurei agir, foi a melhor forma que encontrei naquele momento. Cinquenta horas praticamente, ininterruptas, salvo os intervalos para sono e as escapadinhas fora do hospital para fumar, foi o tempo que passei junto com minha equipe, totalmente ilhado. No sábado de manhã, quando as águas haviam baixado, antes de ir embora, ainda montei e organizei uma nova equipe, ligando para a residência dos outros funcionários, questionando se foram ou não atingidos pela enchente e vendo quais poderiam vir para substituir os anteriores que estavam já nitidamente esgotados.

Nessa mesma época da enchente eu passava por um momento difícil em minha vida, e queria mesmo descontar tudo no trabalho. Então estar lá dentro queira ou não era uma válvula de escape. Deste modo, também podemos muitas vezes encontrar positividade em uma guerra, apesar de eu ser contra qualquer tipo de violência, física ou moral, mas não é de se negar que em uma batalha não haja para alguns pontos positivos. É um jogo de ganhar e perder, em certos momentos a gente ganha, em outros a gente perde. Eu ganhei além das horas extras pagas corretamente pelo hospital, experiência, de modo que não temeria nem um pouco ter de ficar de plantão em uma outra enchente, apesar de saber também que uma enchente nunca é igual à outra. Mesmo assim, espero ao menos conservar o mesmo espírito que fez com que eu passasse quase ileso pela primeira. Digo quase, porque algumas conseqüências devo ter sofrido, principalmente no que tange à saúde. Mas, tudo agora já está digamos superado. Fica na memória um momento em que eu me orgulhei de minhas atitudes, de meu posicionamento, e até mesmo da minha escolha de ser Enfermeiro. Tomara que isso conte para o homem lá de cima, se bem que no fundo, ele também poderá dizer que tudo que fiz foi só por vaidade...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Uma Noite com Minha Avó

                               Sentado ao lado da minha avó materna deitada no que provavelmente será seu leito de morte, enquanto ela geme, eu escrevo estas linhas que aqui vão. Não é nada confortável participar do sofrimento de qualquer pessoa, mas talvez principalmente de alguém a quem se estime.
                               Bem, deste pequeno, a casa da minha avó era para mim algo sagrado, e eu sempre nutri um respeito por ela quase religioso. Minha avó era como uma pessoa pura, sem pecados e seu abraço quando nos recepcionava só vinha a confirmar isso ainda mais, bem como sua história de vida, o respeito que os filhos lhe impingiam. Queria agora poder consultá-la, por exemplo, no que tange o momento de minha vida, pelo qual estou passando, pois ela tinha sempre palavras sábias. Saberia assim, como ninguém, sem dar conselhos, sem nada, iluminar-me o caminho.
                               Tive que parar de escrever agora para atender à solicitação dela de água. Ela continua gemendo, seu pulso e sua respiração estão rápidos. Enquanto escrevo aqui, estou segurando o pulso dela. Meu receio é que ela morra de fato justamente esta noite, quando que a família não se encontra preparada para tal , arriscando até mesmo que alguns possam achar que eu tenha sido o culpado pela sua morte. É triste, lamentável mesmo, que alguém com uma vida como a da minha avó esteja ainda precisando passar por isso. Ela também sempre foi uma cristã devota. Nunca irei entender os desígnios de Deus, não são mesmo para serem entendidos.
                               Ela está delirante agora, diz que ela mesma quer fazer uma sopa, mas que tem que ser na sua casa, e que se assim fosse comeria com gosto. Também chama pela Dioclésia (nome fictício, somente para preservar a identidade das pessoas) uma de suas filhas, que não está aqui. Mas ela chama como se essa filha estivesse. Acabei de deixá-la novamente em decúbito dorsal, e reposicionei suas pernas. Às vezes, ela da um suspiro profundo que termina com uma série de gemidos, outras vezes ela começa a soluçar.
                               Há quinze anos ou mais quando ela orava comigo nesta casa, jamais poderia prever que a sala onde oravamos se tornaria seu quarto, e que eu estava aqui ao seu lado, praticamente já a velando. Minha mãe dorme no sofá em frente. Eu sei que ainda poderei ver essa cena se repetir de forma ainda mais intensa para mim, no caso de ser minha mãe que eu estivesse agora fazendo o papel que estou. Também não sei se reagiria da mesma forma com a qual estou reagindo agora aqui com minha avó materna. Desconfio que talvez ela esteja evacuada. Sinto um leve odor de fezes que não tenha certeza se é isso, mas como ela está gemendo muito pode realmente ser. No entanto, o meu nariz também já não está tão treinado para saber se é ou não, em decorrência dos anos cuidando de doentes nos hospitais em que atuei primeiro como Técnico em Enfermagem, depois como Enfermeiro, onde por fim o cheiro muitas vezes já se confundia com o próprio cheiro do ambiente, era o próprio cheiro do ambiente em alguns casos.
                               Nesse instante, acabei de virar ela para o lado esquerdo, ao que ela parou de gemer. Parece que nessa posição na minha avó se acomodou melhor, ou o fato de ter sido movimentada fez com que percebesse a presença de alguém por perto, o que lhe acalmou. Mas sua respiração está ainda ruim. Nessas horas chego a me questionar se não é melhor a internação em um hospital, onde ela receba ao menos uma analgesia mais forte, em alguns hospitais estaria até mesmo na UTI, intubada, sob sedação. Mas sei também que o custo de uma internação hospitalar não é barato, nos últimos sete dias que minha avó ficou no hospital antes de voltar para casa, meu avó gastou em torno de R$ 8,000 só com a internação, fora os gastos com as viagens, alimentação, etc. Não que ele não tivesse condições de bancar, mas não sei se não seria um desperdício, sendo o fim o mesmo. Se internasse pelo SUS, teria uma acomodação bem pior, restrição de visitas, etc. Agora ela parece dormir, no entanto, seus olhos permanecem abertos. O que ela olha eu não sei. Ainda há pouco iniciou uma estranha oração que me deixou muito espantado, pois nitidamente pela sutileza da utilização dos pronomes pessoais, diria que se trata de um texto bíblico, mas ela proclamava de tal forma que mais parecia estar tendo uma conversa com algum santo, ou com o próprio Deus. Deve ser só imaginação minha mesmo. Vou aproveitar esse momento de silêncio dela, para ir à rua fumar um cigarro. Espero não ter que apagar o cigarro pela metade por causa de algum gemido dela.
                               A clorpromazina que lhe administrei, um antipsicótico do grupo das fenotiazinas, deve ter feito efeito. Deu para fumar todo o cigarro, beber um gole de café e ainda comer algumas broinhas. Depois um gole de água, escovar os dentes e pronto. Tem que se andar muito devagar, pois o assoalho estrala todo. Fui à rua e misteriosamente os sapos pararam seus coachos. Ouvia-se apenas o barulho do riacho, os grilos noturnos e alguns gados mugindo longe. Lá fora, a natureza seguia seu curso normal, fazendo sua justiça que em nada tem haver com a nossa. Na natureza, há um sentido! Queira ou não, dentro desta casa a Natureza também agia.
                               Reparo o rosto de minha avó que onde antes estavam as bochechas agora está uma cova de cada lado do rosto. Seria o momento certo para dormir, porque ela ainda permanece quietinha, mas não posso correr o risco de minha avó morrer sem que ninguém perceba. Apesar de seus olhos terem se cerrado, suas mãos não param. Ela retira a coberta de cima do tórax, mas pelo menos suas mãos não estão cruzadas sobre o peito como ainda há pouco. Sua respiração ainda é ofegante. Minha mãe começa a ressonar no sofá. Mesmo dentro de casa ainda ouço os grilos lá fora, e o tit tac do relógio de parede aqui dentro. Minha mãe começou a roncar, espero que não acorde minha avó. É bom que ela durma, pois no meio da madrugada vou revezar com ela. Meu avô deve estar dormindo. Está no seu quarto e como não ouço nada, e a luz parece apagada eu espero mesmo que esteja dormindo, pois que já está na idade de oitenta e poucos anos (desculpem se não sei sua idade exata) e consta ainda que nada dormiu na noite passada, pois ficou cuidando de minha avó toda a noite. Ele dizia hoje no início da noite que não estava com sono, mas seus olhos vermelhos não o deixavam mentir. Nessas horas ainda consigo pensar nos meus problemas. Minha mãe acorda agora e me vê escrevendo, volta a dormir. Escrevo à mão para que o barulhinho das teclas do teclado não perturbe minha avó, ou mesmo minha mãe. Já um mosquito irritante veio três vezes zumbir no meu ouvido. Tentei esmagá-lo, em vão. Os cachorros de minha madrinha, que fica há uns cem metros daqui, começam a latir.
                               As quatro da madrugada meu avó acorda, acende a luz e tenta conversar alguma coisa com minha avó, que pouco responde. Logo ele volta a dormir.
                               Do meu lado direito na parede, tem uma foto do casal já velhinhos, com seus dez filhos. A maioria está séria. Acima e atrás na parede ainda na mesma foto um crucifixo, cujo fotógrafo, conseguiu a destreza de “cortar” a parte superior, mas ainda assim Jesus Cristo aparece por completo, posto que está pendurado pelas mãos. Do meu lado direito ainda, e bem do lado da poltrona que estou sentado, um presépio simbolizando o nascimento de Jesus, na manjedoura, com o carneirinho, o burrinho, uma vaca, José e Maria. Ficaram faltando os três reis magos. Alguns insetos voam em torno do abajour aceso, única luz a clarear este momento lúgubre...
Diante de toda a dificuldade que com meus próprios olhos fui capaz de ver, no que tange a situação de saúde de minha avó materna, percebo que, apesar do câncer em sua pelve que já se espalha pelo abdome, apesar da dor que muitas vezes a faz gemer, pedir socorro, existe um grupo de pessoas que acabam por estarem de certa forma precisando de mais ajuda do que minha própria avó. Um grupo de pessoas com uma carência psicológica, uma família incapaz de lhe dar com os conflitos internos da vigência de perderem um dos membros fundamentais, um dos seus pilares. Não se espera mesmo racionalidade em um momento como estes, mas o mínimo ao menos de bom senso se deveria esperar. Críticas veem afetar as pessoas que talvez sejam as que mais estão desempenhando esforços no sentido de cuidarem deste doente, e parte normalmente daquelas que menos esforço estão empregando. A família tenta se organizar, para que todos passem a desempenhar o papel de cuidadores, mas não é fácil, porque em meio a correria do dia a dia, sufocados pela rotina macerante do trabalho, não conseguem um momento de fuga em que possam gozar, por assim dizer, destas últimas horas com essa pessoa que foi quem cuidou e alimentou estes outros até chegarem a idade de andarem com suas próprias pernas, ou seja, de se autossustentarem. Claro que não posso falar de todos, além do tempo, também tem as limitações pessoais de cada um, em lhe dar com esse tipo de situação, isso também deve ser respeitado, obviamente.
                               De quando em quando minha avó emerge de seu sono para em uma semi-lucidez solicitar água, chamar pelo seu esposo E., pedir ajuda. Seu olhar é perdido, ela tenta mirar os rostos das pessoas, mas não emite qualquer expressão que denote que os tenham reconhecido.
                               A noite finalmente terminou, a quinta-feira veio com uma manhã de serração, uma manhã tranqüila neste interior. Muitos pássaros rodeiam a casa com seus cantos. Alguns insetos ainda são audíveis, grilos para ser mais preciso. As cigarras devem começar seus cantos mais tarde, caso saia sol. Minha avó está mais tranqüila, mas não quis se alimentar, pediu apenas água. Está acordada, mas não geme no momento. Eu termino de redigir esse texto olhando para ela, ou para o que representa ser ela nesse instante, mas lembrando de como ela foi...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A vida? É mesmo um engano...

Somos prisioneiros do nosso passado. Mesmo que, como muitos dizem fazer, risquemos algumas páginas de nossa vida, ou simplesmente as arrancamos, lá no fundo de nossa consciência essas páginas continuam acesas, e de vez em quando veem iluminar ou obscurecer nossas vidas no momento que denominamos "presente". Também não é diferente com nosso futuro, o campo das possibilidades que se destaca a nossa frente a cada segundo que vai se aproximando, também nos acorrenta, porque não podemos viver sem perspectivas. Até mesmo à beira da morte, ainda temos a perspectiva, ou se já não temos consciência para tal, existem os outros que as alimentam. Prisioneiros do futuro e do passado, o que fazemos com o presente? O presente se bem entendido não existe, porque ou já foi, ou ainda será.

Então, seres dotados de consciência, vivemos à margem do que fomos e do que seremos, muitas vezes sem mesmo termos o controle sobre isso. Mas não justifica nossa inautenticidade. Mesmo diante dos erros e acertos do passado e das possibilidades do presente, continuamos nossa jornada, e seguimos realizando escolhas. Abdicar certos prazeres momentâneos para gozar de prazeres reais em uma vida futura pode parecer uma escolha assertiva, mas caso o acaso nos pregue uma peça e nos tire a vida de forma repentina, antes de gozarmos destes tais prazeres reais, nossa escolha foi uma mera perda de tempo. Então, sem ter certeza do que vai acontecer, sem poder prever qualquer coisa sobre o dia de amanhã, sobre as próximas horas, sobre mesmo o próximo segundo, seguimos realizando escolhas, adotando posturas, decidindo, influenciando, determinando, etc. A questão é tentar se aproximar ao máximo daquilo que se almeja, e utilizar de todos os meios possíveis para tal, isso é viver uma vida autêntica. No entanto, ainda assim, é difícil até mesmo saber o que realmente almejamos. E também, tem o risco de depois de alcançado aquilo que realmente almejamos não conseguirmos focar em mais nada grandioso. A busca é melhor do que o encontro.

Sendo asssim, o que é a vida de um indivíduo? O que são essas horas que passamos sobre essa Terra que aparentemente traz mais dor do que outra coisa? Sempre me perguntei sobre o sentido disso tudo, e é normal que em alguns momentos esse questionamento leve ao desespero, porque simplesmente, não há o que saber sobre o sentido da vida. Cada qual dá o sentido que achar justo. Esse andar sobre esse planeta, esse deslocamento, essa necessidade de se relacionar, porque é praticamente impossível a vida sem a relação com o outro, é o que temos de mais humano, e surpreendentemente, é uma condição também meramente animal. Então, somos animais dotados de consciência que não sabem o que fazem nesse planeta, necessitando o tempo inteiro criar aqui e ali aparências que tomam a forma de sentido para nossas vidas. Talvez seja o que fizemos com a religião, com Deus, com a origem do Universo, com nossos ídolos. Mas é tão difícil admitir que o Ser Humano é apenas um erro!

Nesse vai e vém o tempo vai passando, nossa vida vai se cumprindo e vai chegando a nossa hora. O que me incomoda nesse momento é que agora eu tenho passado. Porque antes o que eu tinha como passado, eram recordações que de certa forma eram boas, e também faziam sentido, era uma evolução: infância, adolescência, juventude. Agora, o que eu tenho de passado, é um amontoado de anos tentando fazer não sei o que, andando não sei para onde, projetos que não deram em quase nada. O que eu tenho de passado fez sentido só no momento que estava sendo vivido, agora é como se fosse o passado de uma outra pessoa, porque eu nada tenho para fazer com isso. Mesmo assim, esses períodos não me abandonam e de tempos em tempos veem aqui me lembrar do que fui, do que fiz ou não fiz, por onde andei.

Concluindo, a vida é um engano mesmo! Mas também não adianta nada ficarmos remoendo isso, o único jeito e dar o próximo passo, é seguir o curso das coisas, é tentar quem sabe produzir algo, gerar, ocupar o tempo. Nesse sentido a minha vida se equipara a vida de qualquer um outro, porque por mais que esse outro tenha feito, por mais que tenha vivido, viajado, experimentado, ele é o que sou, apenas mais um nesse planeta, correndo atrás de algo que talvez seja apenas uma tolice. Quem vai saber? Enquanto nos questionamos o tempo vai passando, e até onde sabemos, só temos essa vida, esse planeta e as pessoas que nele estão vivendo. O negócio é aproveitar nosso momento, nosso instante de passagem por essa Terra, para tentar quem sabe ao menos ser sublime. Já que fomos dotados de inteligência, por assim dizer, então que ao menos possamos fazer jus a isso. Ou não, ou ficamos por aí, só curtindo mesmo onde a corrente vai nos levar. Não sei, vive-se, e deu!

domingo, 1 de janeiro de 2012

Dia 1º

Bom, não é possível se afugentar do velho chavão e deixar de escrever no dia primeiro do ano sobre o significado desta passagem de ano. Bom, 2011 foi cinza para mim, a partir de sua segunda metade. Espero viver em 2012 o período de Aurora, como o próprio Nietzsche se referia ao período em que começou a se recuperar de sua doença. Mas não é por culpa dos acontecimentos não que 2011 foi cinza, é por culpa minha mesmo, na maioria das situações. Eu mesmo não me organizei, não fiz as coisas da maneira como deveria ter feito. Bem, se mais alguém se sente assim, bem-vindo ao clube dos displicentes. Todavia, que tenhamos a ousadia de sair deste lodaçal e encarar a vida como tem que ser encarada!
Ontem postei a seguinte frase no facebook "que a chuva lave a podridão de 2011", pois que chovia muito aqui, ao cabo que um amigo escreveu logo abaixo de minha postagem "vai faltar chuva!", de fato, haja chuva! Também achei muito interessante a colocação do PC Siqueira, dizendo que é muito otimismo das pessoas pensarem que o mundo vai acabar em 2012. Realmente, é querer demais!!! O negócio é continuarmos por aí, enquanto Deus assim consentir, vamos remando e conduzindo nosso barco, às vezes soltamos ele ao sabor do vento, outras vezes remamos contra a maré, mas de preferência para frente sempre.
A respeito do blog, ele estava bem parado, vou tentar ser mais diligente e manter ele atualizado ao menos diariamente. É que tenho pavor de me repetir, e então, para evitar ficar batendo sempre na mesma tecla, prefiro calar. Também, posso dizer que estava sem tempo e isso era verdade, agora pelo menos vou ter a manhã e a noite para escrever.
Abraços aos que me acompanham...
Feliz 2012!