
Perdemos
o sentido da vida facilmente. Não é preciso muito não! Uma doença, um desafeto,
uma decepção, somos muito fragilizados a estes tipos de emoção. O ser humano
não foi feito para amar e sim para sofrer, e isto é até biblíco. Aprendi isso
depois que comecei a ficar doente. Meus dias são tão negros! Eu sei que nem
todo mundo sofre deste mal ou algo parecido. As pessoas ainda acreditam na
felicidade, mas para mim, quando falo de felicidade, é como se estivesse
falando de algo apenas imaginário, mas nunca atingível. É possível, acredito,
que tenhamos momentos felizes. E talvez seja apenas isso que me resta porque
essa vida é demasiado confusa! Há sempre aquele que pensa viver num conto de
fadas onde tudo é belo e bom. E há aquele que vive a realidade dura e crua, sem
qualquer emoção. E há o meio termo, a terça parte e o um terço. E há tudo isso
num só ser. Eu já provei do gosto amargo da vida e já sou suficientemente
adulto em relação a isso.
***
Então
eu nasci para fazer o quê? Essa acaba por ser uma pergunta muito difícil,
porque hoje podemos pensar que é uma coisa e amanhã vamos descobrir que é outra
totalmente diferente. Eu gostaria de ser escritor, mas quando me deparei com a possibilidade
de decidir meu futuro, pensei mais no conforto e na segurança. Como funcionário
público certamente teria estabilidade no emprego. Então, acabei por fazer a
escolha da opção mais cômoda. Estudei durante todo um ano para passar em um
concurso público, e consegui passar entre os primeiros colocados o que já me
garantiu a vaga. Depois vem o aprendizado da nova profissão, os novos colegas,
a inturmação, as descobertas, e isso vai comendo anos e quando a gente se dá
conta já fez a escolha que decidira sua vida, já está a meio passo dela se
findar e acabou por fazer tudo errado. O medo, a insegurança, a falta de
imaginação e confiança em si mesmo levaram-me a querer logo decidir minha vida,
já nos primeiros anos da vida adulta. Casei-me com uma mulher que amava, e que
mudou muito em cinco anos. Temos um filho em comum. Separei-me quando comecei a
ter rompantes de melancolia e quando comecei a tentar resgatar todo o tempo
perdido. Por essa época, eu me trancava na biblioteca e lia de forma exacerbada.
Até mesmo no trabalho, se tinha alguma folga puxava um livro. Em casa a noite,
de madrugada, estava sempre estudando. Estudei muita filosofia, comecei a
escrever diários, e perdi a mulher. Não sei o que aconteceu primeiro nesse
caso. Confesso que nisso tudo não há sequer arrependimento, ao menos fiz um
esforço para recuperar aquele que eu queria ser. Montei uma biblioteca
particular, mudei-me para este apartamento que me permitia ter um quarto só
meu, onde montei um escritório. Comprei uma secretária antiga, que seria meu
local de trabalho. Enquanto estivesse em casa eu iria trabalhar na produção
literária e filosófica. Durante dois anos me favoreci de meus estudos,
aplicando aqui e ali o que eles me ensinaram, de maneira tão precisa que não
deixava margens para dúvidas sobre o sentido da vida. E de repente veio a
surpresa, minha rotina se diluiu, meu mundo se desmoronou, mudara o ponto de
onde obtinha meus pontos de vista, e agora estou aqui, vazio!
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