quarta-feira, 5 de março de 2014

Terrorismo e Habermas

Jürgen Habermas, refletindo sobre o terrorismo, disse haver três modos deste: "guerra de guerrilha indiscriminada, guerra de guerrilha paramilitar e terrorismo global. O primeiro tipo é simbolizado pelo terrorismo palestino, em que o assassinato é geralmente praticado por um militante suicida. O modelo da guerra de guerrilha paramilitar é característico dos movimentos de libertação nacional e é retrospectivamente legitimado pela formação de um Estado. O terceiro, o terrorismo global, não parece ter metas politicamente realistas, a não ser explorar a vulnerabilidade de sistemas complexos. Nesse sentido, o terrorismo global em a menor chance de ser retrospectivamente reconhecido como defensor de reivindicações políticas."¹
Até que ponto podemos pensar assim como Habermas, e classificar desta forma o terrorismo, selecionando e descaracterizando um ato de outro para enquadrá-los nesses modelos? Terrorismo é terrorismo, no sentido de que a divisão de Habermas é meramente didática, no fundo, não representa nada. Afinal, o que o terrorismo nos põe é a vulnerabilidade de nossas vidas, e classificá-lo seria uma bobagem tremenda, ao cabo que o que de fato importa é estarmos diante de uma situação instável, ameaçadora, provocada pela atitude humana. É isso, e não a ideia de classificação que sobrepuja qualquer ação terrorista, sobretudo no que diz respeito à indiferença com que muitas vezes esses ataques são realizados. Por exemplo, o fundamentalismo islâmico é só uma faceta disso, não uma forma diferente das outras de terrorismo, diferente dos causados por Fidel Castro na tomada de Cuba, ou mesmo pelos exageros oficiais no Brasil, à época da Ditadura. Obviamente, não é indiferença para quem ataca, mas sempre para com o sentimento da vítima, que na maioria das vezes nada tem haver realmente com a causa protestada, reivindicada, vingada do terrorista. Continuo na lição do ilustre filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, com esse povo terrorismo não há o que se falar em diálogo, eles não querem dialogar, e ponto. E como Nietzsche, penso que a violência é uma condição fundamental, necessária para repelir certos atos terrivelmente mais violentos que o ato que repele. Então não digo não à violência, mas sim à violência injustificada, apesar de ser difícil de valorar isso, pois claro que o que pode estar sendo justificado para mim, pode ser um absurdo para outrem. Mas longe de mim, na maior das modéstias, querer contestar de fato qualquer pensamento de Habermas. Respeito-o profundamente, e é na medida desse respeito, que me permito comentar essa sua ideia de divisão do terrorismo. Mas ele não está errado, nem mesmo certo, é apenas algo a considerar.


¹ BORRADORI, Giovanna. Filosofia em tempo de terror: diálogos com Jürgen Habermas e Jacques Derrida; tradução Roberto Muggiati. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. pág. 68

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